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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

25
Abr08

A POSTA NA DÍVIDA DE GRATIDÃO

shark
Nem sequer ambiciono a bagagem necessária para vos explicar com definição ideológica porque me assumo um homem de Esquerda. Jamais iria por aí.
Vou antes pelo que nas minhas emoções, nas minhas reacções instintivas, me leva a celebrar com sorrisos e com lágrimas o dia 25 de Abril.
Foi uma peça de um noticiário televisivo que me esbofeteou com essa verdade insofismável da minha ligação profunda com os valores da Revolução que hoje se comemora. Falava-se de José Dias Coelho, um escultor abatido a tiro pela PIDE em Alcântara, um homem que me arranca lágrimas porque gosto de me acreditar tão corajoso, tão capaz de morrer por uma causa como ele, tragicamente, se revelou capaz.
 
José Dias Coelho, um comuna, abdicou da vidinha santa de que tantos “antifascistas” nossos contemporâneos usufruíram enquanto a Revolução tardava por falta de mobilização popular.
Foi nesse contexto que a peça da SIC Notícias me fez saltarem as lágrimas, me fez chorar. Porque consegui vestir por instantes a pele daquele e de outros homens obrigados a penar pelas suas convicções, pelo apelo terrível que a Liberdade constitui na alma de quem dela se vê privado.
 
Indiferença Leviana
Custa-me a acreditar que pessoas de bom senso, inteligentes, sensíveis, de Esquerda ou de Direita, consigam reduzir a luta dos que defenderam a Liberdade aos ícones que a descrença vai transformando em clichés ou aos excessos que derivam do desespero de perceber a agonia de toda uma ideologia à mercê do que a História lhe deu a provar.
Custa-me a entender esse desprezo mal fundamentado como não identifico qualquer lógica na indiferença leviana a que se vota esta efeméride na maioria da população, qualquer que seja a sua faixa etária ou condição social.
 
A Liberdade de Expressão, por exemplo, é um valor universal. Nem os simpatizantes da extrema-direita abdicam do usufruto desse direito, paradoxo, apesar de se identificarem com os rostos e os regimes que mais o cercearam no passado e com as ideias que mais a ameaçam no futuro.
O debate, a troca de impressões, a divulgação das diferentes opiniões constituem de forma natural o principal motor da evolução do pensamento, das mutações que o Mundo precisa de enfrentar para que as pessoas consigam acompanhar a passada do progresso que provocam.
Antes do 25 de Abril, isso não oferece discussão, essas realidades não existiam porque eram entendidas como ameaças e nisso temos exposta a maior incongruência de qualquer ditadura: a de se afogar inexoravelmente no lodo criado pela respectiva estagnação.
 
Essa foi a verdade que a Revolução nos permitiu comprovar de forma inequívoca, como a simples publicação desta posta livre, da minha opinião, faz prova.
Não se trata de uma verdade comunista, nem mesmo exclusiva da Esquerda.
É um facto que nenhuma atoarda canhestra consegue desmentir.
 
E por isso chorei quando de repente me lembrei dos milhares de clandestinos que sacrificaram a estabilidade precária de uma vidinha sem sal, cinzenta e calada, pelo desespero de uma luta insana contra um país de alimárias conformadas às mãos de uma elite confrangedoramente minoritária que as manipulava e silenciava para não poderem reclamar injustiças tão óbvias como a ausência de férias ou a impossibilidade de oferecerem aos filhos a hipótese de um percurso escolar.
Nesses clandestinos, maioritariamente comunistas (justiça faz-se assim), englobavam-se pessoas cujas vidas nem padeciam dos males contra os quais se insurgiram.
A sua coragem e abnegação, a sua dedicação voluntária, merecem-me o respeito que nenhuma colagem aos erros de líderes prepotentes ou estruturas partidárias decadentes possam evidenciar.
 
Embora considere que os princípios em causa não são de Esquerda ou de Direita, pelo menos os mais puros, os fundamentais, reconheço nas prioridades e nos discursos da minha corrente preferida a Liberdade definida quase como uma obsessão.
 
É isso que me impõe, como o Natal, por exemplo, deveria impor a qualquer católico, uma gratidão eterna a quem lutou por mim numa época em que eu não o podia fazer.
 
É por isso que os valores que Abril representa constituem na minha postura de agnóstico o mais próximo que algum dia sentirei como milagres da Fé.

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