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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

30
Mar08

A POSTA QUE VÃO PENSAR QUE SÓ PENSO NAQUILO...

shark
Um dos aspectos que mais aprecio nisto dos blogues é a absoluta liberdade criativa de que uma pessoa dispõe quando se presta a pousar a vista numa página branca vazia.
É fantástico, poder enfrentar um espaço em branco com o estatuto plenipotenciário acerca do respectivo preenchimento.
Claro que isto também se verifica com as declarações de IRS, a gente pode lá escrever o que nos der na gana e com isso até poupar uns trocos que dessa forma serão esbanjados por quem efectivamente os ganhou. Mas aí arriscamo-nos a que o longo braço do Fisco nos envie a temível inspecção que nos transforma de um dia para o outro em párias, penhorados no património até onde o tal membro alcança.
 
Na blogosfera não. Tirando um ou outro que servem de exemplo mediático, com imensa projecção sobre a apreensão das armas do crime (os temíveis computadores, letais para qualquer clandestinidade daquelas que o Poder prefere silenciadas) e montes de visitas garantidas pelo impacto das notícias na televisão com linque e tudo (alguma Imprensa é lesta a lincar os exemplos mediáticos na qualidade de acusados mas lenta a seguir esse procedimento quando na qualidade de fontes de informação), podemos botar discurso acerca de tudo o que nos dê na gana porque não estamos numa ditadura a sério.
 
A liberdade criativa caminha de braços dados com a liberdade de expressão, embora a criatividade possa explodir sob a canga opressora (como reacção natural, como contra poder) e algumas das melhores expressões até nasçam sob o camartelo de alguma forma de censura, mais ou menos camuflada consoante a arbitrariedade concedida por um povo aos seus mandantes.
Ainda assim, apesar de cientes do facto de a arma de arremesso legislativa alegadamente criada para proteger os cidadãos uns dos outros (a maledicência, essa desvairada…) poder ser esgrimida por qualquer Estado para, no mínimo, intimidar os que falam incómodo e, por inerência, falam demais, ainda assim a página em branco surge aos nossos olhos blogueiros como um mar de possibilidades cuja maré depende acima de tudo do que consigamos obter em matéria de agitação das águas.
.
.
Correntes fortes
 
Sim, apesar da proliferação de blogues literários, culturais, intimistas, humoristas e outras coisas acabadas em istas, prevalecem os que se distinguem dos outros por dizerem na blogosfera aquilo que dificilmente poderia ser dito na maioria dos jornais, esses sim cada vez mais subordinados aos vários poderes e influências que reduzem as páginas em branco a panfletos mais ou menos descarados de uma corrente ou de um interesse qualquer. É o preço do dinheiro que manda, num meio onde as cooperativas de jornalistas há muito se tornaram em fósseis no novo (luso)mundo dos colossos financeiros da Comunicação.
 
Eu fui jornalista, nesse tempo dos fósseis, e um dia desisti. Precisamente no dia em que a folha quase em branco do recibo do ordenado tornou ainda mais difícil enfrentar as páginas em branco manchadas de cinzento, por exemplo, pelos intocáveis interesses dos anunciantes principais, dos figurões que se baldavam aos milhões com que se compram os melões (os salários dos jornalistas constituíam a pevide dessa fruta).
Era a sobrevivência dos projectos de comunicação que estava em causa e um gajo quase se compadecia dessa cedência abjecta por parte de quem passava os cheques à gráfica e à distribuidora (que partilhava com as agências publicitárias a escolha de quais as publicações que medravam num país inebriado pela euforia da liberdade recém-adquirida).
.
.
Ao contrário dos donos, os egos masturbam-se às claras.
 
E é por isso que me dá um gozo bestial poder sentar-me diante de qualquer página em branco e soltar os anjos e os demónios do meu interior, sem restrições que não as impostas pelo bom senso e todas as que por arrasto se englobem nesse conceito valioso que nos delimita a fronteira com o caos, com o excesso que converte a liberdade em libertinagem e retira credibilidade (o usufruto da liberdade é legítimo por natureza, a ausência de consequências para a mentira, o insulto ou similares não é) aos autores mais descuidados no rigor ou destrambelhados da mona.
 
É por isso que cada posta que vos dou é um prazer para mim, tal e qual como acontece com o sexo (a outra eterna página branca que adoro enfrentar).
 
E aqui, em que igualmente só vem quem quer e ninguém pode acusar-me de não dar o meu melhor, posso dar-me ao mesmo luxo de jamais perguntar se foi bom para vocês também.

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