18
Jun05
MÚSICA SACRA
shark
Foto: sharkinho
Gosto que me dêem música. Sobretudo a de inspiração religiosa, sempre tão intensa e tão cheia de fé. Eu leio o desespero no tom, o adágio no som, a lamentação. Ouço a tristeza por detrás das ilusões mal camufladas, patéticas, por não passarem disso mesmo. (des)Ilusões alimentadas pela fé inócua numa nova oportunidade para compensar alguma que se perdeu. Mesmo não tendo sabido merecê-la, mesmo não tendo sido capaz.
A fé permite sonhar, como a fantasia. Ajuda a tocar o próprio instrumento, quando apertam a saudade e a frustração. E eu gosto de ouvir essa música que me dão, sagrada, pelo despeito em cada nota, pela confirmação inequívoca dos pressupostos invocados em cada nova audição. Pelo absurdo da crença, pelo desconforto da lembrança, pela cacofonia expressa na pauta de uma obsessão.
Não me perguntem porquê, mas alguma da música que me dão não me irrita. Soa-me absolutamente triunfal.