Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

12
Out06

O DIA EM QUE A MORTE LHE ACENOU

shark
fly high.JPG
Foto: Shark

Acabo de passar uns minutos a ouvir uma daquelas histórias de vida que nos deixam sem saber por onde pegar.
Um dos meus clientes fazia parte do grupo de felizardos que sobreviveram a um voo de quase meia hora num avião sem combustível. Algo que nem nos simuladores é fácil de conseguir. Um milagre, afinal, protagonizado por um piloto com asas, um anjo como o vêem cada uma daquelas pessoas aterrorizadas pela morte quase certa que o próprio lhes anunciou.

Vinte e cinco minutos de aflição a bordo de uma aeronave condenada. Mães com crianças de colo, casais, tripulação, pessoas que se viram forçadas a encarar a morte e a aguardá-la no céu enquanto um homem desconhecido as conduzia ao seu destino presumidamente fatal.
De lágrimas nos olhos, o meu cliente contou-me como a sua mulher gritava sem cessar o nome do filho de ambos. Mal a ouvia no meio do som de muitos gritos, orações, corações acelerados à espera da batida final.

Só um sobredotado conseguiria fazer aterrar o monstro de metal que planava sem motores. Todos a bordo o sabiam e a esperança era escassa, sobretudo quando o comandante informou que ia tentar uma aterragem de emergência no mar e recomendou a todos que vestissem os coletes salva-vidas. As hipóteses de sobrevivência nessas condições são quase nulas, como a história já provou.

Mas o piloto mudou de ideias, preferiu esgotar a única tentativa em solo firme. À partida uma opção teoricamente pior. Ele acreditou que não e apontou o avião para terra, decidiu arriscar uma aterragem no sítio certo. E foi.
A aeronave flutuou no ar enquanto lá dentro, corpos dobrados, cabeças encostadas ao assento de alguém escolhido para morrer no mesmo instante, os passageiros despediam-se da vida e/ou das pessoas amadas junto de si.

O meu cliente, olhos esbugalhados enquanto me descrevia a cena, perdeu a fala e a audição, estado de choque, quando a quinhentos quilómetros por hora o avião embateu na pista perdendo de imediato os pneus que o trem de aterragem substituiu, rasgando o alcatrão até o enorme pássaro de ferro se imobilizar sem nenhuma vida perdida nessa hora de sorte sem paralelo.

Esse homem que sirvo no âmbito das minhas funções contou-me a sua história inesquecível na sequência de uma conversa acerca da avioneta que ontem pregou um susto terrível aos nova-iorquinos e arrastou para a morte duas pessoas cuja sorte se esgotou. Esse homem, uma pessoa normal, contou-me tudo isto a poucas horas de seguir para o aeroporto da Portela, para mais um voo de cinco horas rumo a um destino qualquer.

6 comentários

Comentar post

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Pesquisar

Arquivo

    1. 2022
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2021
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2020
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2019
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2018
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2017
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2016
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2015
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2014
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2013
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2012
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2011
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2010
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2009
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2008
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2007
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2006
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2005
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    1. 2004
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D

Já lá estão?

Berço de Ouro

BERÇO DE OURO