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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

30
Set16

A posta que é a vida a brincar

shark

Sempre que a vida, essa brincalhona, nos encurrala em labirintos também oferece diversas saídas que, na maioria, desembocam em ratoeiras.

 

Na ascensão tudo parece conjugado para sermos transportados ao colo para o sucesso. Multiplicam-se os amparos, expandem-se os horizontes, alargam-se os benefícios e depressa interiorizamos que é a subir que todos os santos ajudam.

Contudo, na queda o fenómeno é o mesmo embora em sentido contrário. O universo parece transformar-se num escorrega e, a brincar, a brincar, sentimos a vertigem do aumento na inclinação que mais favorece a lei da gravidade quando se instala de armas e bagagens na existência. Se é para descer, todos os demónios empurram.

A mesma vida que nos catapulta cada vez mais alto depois do salto inicial num qualquer trampolim transforma-se numa daquelas brocas industriais que até furam os asteróides que cavalgamos a caminho do nosso armagedão pessoal e intransmissível. Sempre a cair.

Claro que gostamos sempre de acreditar que a vida é uma espécie de montanha russa, com ciclos como os da economia do passado, altos e baixos, subidas e descidas. Mas agora que na economia o mar está sempre flat e em permanente maré baixa, a vida parece acompanhar-lhe o ritmo e o parque de diversões parece só fornecer a emoção do salto para o abismo a bordo do comboio fantasma. Bater no fundo é apenas um degrau no rés-do-chão, a meio do caminho para as caves.

Isto porque, como referido na entrada desta prosa, a vida, essa parodiante colorida, não gosta de meias-tintas. Só aceita o horizonte cinzento-escuro por contrastar bem com a alegria do azul que transforma numa miragem, numa aberta apenas sonhada em períodos extensos de temporal. Até o brilho do sol se tornar em mais um dos muitos milagres integrados exclusivamente no domínio da fé.

 

É essa que nos move, mãos dadas com o desespero de causa, no interior do tal labirinto pelo qual deambulamos sem rumo e arriscamos nas saídas traiçoeiras que são afinal entradas para males piores. Em cada uma dessas falsas saídas um novo túnel cuja luz ao fundo não passa do reflexo luminoso de uma parede de betão.

E a vida a acelerar o tempo que passa sem nos fornecer qualquer travão.

27
Set16

Quanto mais me debates menos gosto de ti

shark

Embora tivesse falhado na intenção de assistir em directo ao primeiro debate das presidenciais americanas, claudicando ainda antes do seu início tardio, reuni a coragem para o ver na íntegra em diferido.

Confirmou-se a minha aposta de que seria a versão western de um hipotético Maria de Belém vs Alberto João Jardim.

 

Nunca fui adepto da política espectáculo, do circo no qual as propostas políticas constituem apenas um detalhe no meio da palhaçada. Igualmente dispenso a euforia palerminha dos balões e bandeirolas que mobiliza militantes, empresas da mais diversa ordem e toda uma estrutura partidária na construção de uma imagem. De uma imagem e não de uma ideia. No fundo, sinais de investimento em meios e em energia para uma operação de maquilhagem à medida dos interesses mediáticos porque, subentende-se, é mais importante divulgar o aparato de uma campanha do que alguma proposta digna de alterar a intenção de voto de seja quem for.

Os debates, como as entrevistas aos candidatos, constituem a minha principal fonte de informação acerca, lá está, das pessoas envolvidas, pois raramente consigo apanhar algo de concreto, de substancial, por entre as acusações e insultos cordiais em que quase sempre degeneram os frente-a-frente ou nas entrelinhas de entrevistas antecipadamente preparadas no sentido de trilharem o caminho do politicamente favorável que o politicamente correcto sempre sugere.

Concentro-me por isso, nem que seja para poder aplicar um critério, nas pessoas. Na forma como reagem a quente às várias pressões e no conteúdo com o qual, pelo menos, definem as suas prioridades em teoria. A prática costuma desmenti-las.

O debate Clinton/Trump permitiu-me distinguir um vencedor, que se tratou de uma vencedora, não pela capacidade de argumentação – melhor a dela, menos dada a devaneios – mas pelo facto de Hillary ter podido ser mais Hillary do que Trump se permitiu ser Trump. Ou seja, ela passou o tempo concentrada no judo intelectual e ele, pobre coitado, aguentou-se como se estivesse o tempo todo aflitinho para ir ao WC enquanto a oponente lhe levava os argumentos e a pose ensaiada ao chão. Isso mais umas passagens recíprocas de raspão pelos pés de barro do par de figurões foi o que consegui aproveitar do show. Nada de novo.

 

O que vejo no meio disto tudo é a confirmação de que a ausência de propostas concretas em benefício dos soundbites apelativos é um fenómeno generalizado e reflecte uma degradação do confronto político que, numa época conturbada, deixa a maioria dos eleitores sem respostas.

Embora a maioria já se mostre sem vontade de perguntar.

25
Set16

A posta que depois logo se vê

shark

Dediquei alguma atenção à ressaca do incêndio no Andanças, sobretudo porque depois de anos nos seguros percebi que a situação dos proprietários de viaturas danificadas era, não pelo motivo que quase todos julgam, muito complicada de resolver.

Obtive, na televisão, ao vivo e nas redes, a informação que ia sendo veiculada e rapidamente se começou a esboçar a habitual reacção inócua e mal dirigida da opinião pública, como dos media, contra os maus do costume: as seguradoras.

 

Dos vários pareceres de gente mais ou menos informada acerca da realidade manhosa da responsabilidade civil envolvida na resolução do problema, via apólice de seguro, destaquei um ao qual ninguém pareceu atribuir importância mas que, na prática, poderia sempre trazer um problema acrescido ao da já complexa atribuição de responsabilidades: os nossos ineptos legisladores transmitiram uma falsa sensação de segurança ao público quando tornaram obrigatório o seguro de responsabilidade civil para os organizadores de eventos como o Andanças mas não definiram um limite mínimo de capital a segurar.

Ou seja, o Andanças cumpriria a lei com um seguro igual ao do churrasco organizado pela administração de um condomínio.

 

Por esta razão, o insurgir colectivo contra as seguradoras, empresas privadas que dançam a música que a Lei toca e perante as quais se justificam algumas queixas mas nunca a esmagadora maioria, “obrigadas” por lei a aceitarem um risco que num país de baldas é sempre medonho, é prematuro (sem decisões definitivas passíveis de contestação) e acima de tudo mal direccionado pois é ao Estado que compete legislar na defesa dos interesses dos cidadãos e não apenas garantir qualquer coisinha em caso de azar.

Da leviandade com que se confia à iniciativa privada o bom senso de distinguir eventos com milhares de outros com dezenas de pessoas envolvidas, deixando em aberto o valor a segurar e sabendo-se como este altera substancialmente o custo de uma apólice, é que deveriam surgir as críticas. Contudo, já a maioria dava a causa como perdida para os proprietários de automóveis sem seguro contra todos com base na alegada má vontade da seguradora e ninguém apontava o dedo a quem tem o dever de definir as regras do jogo.

 

A coisa acabará no esquecimento, qualquer que seja o desfecho na atribuição de indemnizações aos incautos que acreditaram os seus bens acautelados num evento com tudo legalizado e devidamente aprovado.

E ninguém cuidará de se interrogar como seria, na óptica da apólice de seguro sem capitais mínimos impostos, se dentro dos veículos em chamas estivessem pessoas.

20
Set16

Um velho incontinente a morrer sufocado por detrás das janelas fechadas

shark

No momento em que escrevo estas linhas acabo de saber que começaram a construir mais um muro europeu, desta vez em Calais. Na fronteira entre duas antigas potências coloniais das várias que exploraram pessoas e recursos por todo o planeta, ao longo de séculos.

Ambas as nações, por coincidência ou não, estão directa ou indirectamente envolvidas nos acontecimentos que estiveram na origem do problema que decidiram emparedar, seguindo o exemplo de alguns países mais próximos dos locais de desembarque e de regimes extremistas tão desprezíveis como os que provocaram o último grande conflito europeu e mundial.

 

Toda a argumentação a que tive acesso até agora não justifica senão a realidade com que nos confrontamos: parte do Velho Continente está a mergulhar de novo nas mesmas políticas odiosas que quase o destruíram por completo num passado tão recente que ainda há gente viva para o contar na primeira pessoa.

O pretexto dos refugiados, perfeito para alimentar a trumpização europeia, surgiu em cena não como uma oportunidade para os europeus acertarem contas com o lado menos bonito da sua história, mas como um bode expiatório excelente para prolongar a negação da agonia dos sistemas democráticos ocidentais à mercê da crise financeira e social que nos atormenta.

Em vez de a Europa abraçar os valores de que tanto nos orgulhamos, acolhendo gente em aflição, estamos, a reboque de uma UE desorientada e em desmembramento, envolvidos na escrita de uma das suas páginas mais tristes.

A construção de muros, imbecil à partida, não é uma solução mas sim um tiro no pé daquilo que apregoamos representar. Nós, os bons da fita, os ocidentais que lutam para salvar o mundo do fundamentalismo, estamos a construir muros para impedir o acesso das suas maiores vítimas à respectiva salvação.

Muros. Com tudo o que representam para a Europa em particular, são, sempre serão, símbolos de um mal que aprendemos a identificar nessa condição. São ícones de tudo quanto os nossos avós juraram impossível de repetir nestas terras arrogantes e sobranceiras, depois de vencerem os bons, também à custa do sacrifício e da coragem dos antepassados dos maus como os tratamos agora e que lutaram ao nosso lado contra a ameaça nazi. São uma vergonha pelo que representam de negação de tudo aquilo que nos fez sonhar com uma federação europeia, pois muitos cidadãos europeus não se identificam com este acumular de pessoas nas fronteiras em condições miseráveis e ainda menos com este bater-lhes com a porta na cara.

Notem que não precisei até este ponto do texto de referir as questões religiosas que fundamentalistas dos dois credos se esforçam por enfatizar. Nem o islamismo professado pela esmagadora maioria dos refugiados, nem a cristandade de fachada dos que são cúmplices por omissão deste virar a cara a quem precisa.

E não precisei porque se trata de uma falácia. Fossem cristãos os refugiados e ficariam do lado de lá da vedação na mesma, por serem pobres, por serem muitos, por não fazerem parte deste eldorado que vamos destruir começando pelos alicerces, renegando a nossa cultura e a nossa forma de entendermos o mundo e entregando o poder às bestas incapazes de vislumbrarem um colapso associado a esta forma nojenta de proceder que nos dividirá, que arrasará a hipótese de um colectivo com base nas afinidades que os extremistas e os cobardes renegam por detrás dos seus paredões farpados.

A União Europeia é, neste momento da história, uma farsa. As divisões entre membros são cada vez mais óbvias e o Brexit é apenas um dos seus prenúncios, com tudo o que isso implica.

E os muros que agora permitimos erigidos no seu interior servirão, mais cedo ou mais tarde, para garantirem essa mesma separação.

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