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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

21
Fev15

A posta desertora

shark

A tristeza é oportunista. Aguarda em silêncio num esconderijo qualquer, predadora de espaços, e instala-se de armas e bagagens depois de se esgueirar pela fenda que se abriu.
É também muito territorial, essa invasora discreta, e depois de ocupado o terreno fértil do desânimo fortifica as instalações para se defender das poucas armas que restam a quem a queira combater.
A tristeza é perspicaz, pressente a falta de força e corrói a resistência possível como um ácido eficaz. Insidiosa, rasteja como uma serpente nos bastidores da mente e ao primeiro desgosto que encontra crava-lhe os dentes e injecta o seu veneno letal.
A tristeza é também perita na guerrilha emocional, turva as interpretações, destrói relações com os seus actos de sabotagem, terrorista. Consegue transformar os espaços até aos outros em campos minados, uma sementeira de falsos pressupostos que explodem debaixo dos pés de quem ousa avançar.
A tristeza não faz prisioneiros. Executa na hora os inimigos potenciais, as alegrias a mais no seu couto privado. Mata à nascença as ameaças ao seu predomínio, infecta de forma irreversível as melhores emoções enquanto fortalece as restantes, aliadas de circunstância na sua cruzada contra o bom humor e o discernimento que possam contrariar o estado de espírito ideal para acolher a angústia, o desalento. Que possam permitir ao inimigo qualquer espécie de retaliação.
A tristeza não aceita comparação com qualquer outro sentimento, quer inspirar em cada momento um impulso auto-destrutivo, contando para isso com o poder devastador da depressão. E não dispensa reforços como a melancolia, a desconfiança ou mesmo a falta de esperança que alinha sempre com quem adivinha vencedor e a tristeza venenosa é muito astuta.

E o único antídoto é o amor, mas nem sempre resulta.

19
Fev15

Numa palavra só

shark

Por quem te tomas?

Onde vais tu buscar essa ilusão de relevância? Às palavras que julgas saber transformar em algo de significativo quando afinal só tu as acreditas assim?

Explica-me devagar porque para mim é um mistério por desvendar, essa tua certeza. Os factos estão à vista, não passas de um contrabandista de emoções em segunda mão. Armado em poeta para imitares os verdadeiros e especiais, com as tuas palavras normais arrumadas de forma vulgar, convicto de que irás angariar alguma espécie de atenção daquela que sempre dão a quem é de facto importante.

Julgas-te relevante e não entendes algo de tão simples como as reacções que não suscitas, os corações que não agitas com a tua escrita boçal.

Por quem te tomas? Por alguém da elite intelectual, capaz de prender a atenção de quem valoriza a inteligência? Mas tu não tens consciência do quanto é patética essa ilusão? Não consegues encarar a realidade, persistes nessa ridícula vaidade e alimentas esperanças imbecis. Nem sentido de humor à altura das pessoas que preferem a juventude brincalhona à postura cinzentona das tuas piadas grisalhas consegues reunir.

Não passas de um verbo de encher e julgas-te um poço de predicados, fantasias olhares apaixonados na merda das palavras que deixas ao pó.

Defino-te numa palavra só.

 

Tristeza…

18
Fev15

...Até ti

shark

Tacteio o caminho às escuras, no ponto de partida para um caminho feito incógnita cheia de pontos de interrogação. Avanço com os pés bem assentes no chão, cauteloso. Um passo atrás e dois adiante, como dizem melhor. Desconfiado, receoso pelos inúmeros esconderijos possíveis no meio da escuridão, da ignorância acerca da pretensão de quem surja nos cruzamentos.

A hesitação em todos os momentos abalados na coerência pela força da evidência que o raciocínio inventou, os olhos como bode expiatório inocente por pouco ou nada conseguirem ver assim. Às cegas naquele troço do caminho até um ponto indeterminado, um sonho acordado que se confunde com uma miragem no espaço desconhecido, no tempo desprovido de luz.

A penumbra de uma madrugada prestes a expulsar pelo sol que insiste nascer a cada dia que passa, em passo acelerado e sem vontade abrandar. Deixar o tempo passar e acender um cigarro com o isqueiro que explode num clarão. Sombras desenhadas naquele chão mais tangível, iluminado e por instantes visível enquanto solo firme para pisar. Monstros e fantasmas, assombrações alucinadas pelo efeito devastador de uma qualquer obsessão. Desenhadas as sombras naquele chão, ilustrados os medos patéticos de equívocos hipotéticos que podem até nem existir naquele dia tão prestes a surgir sem pressas. Podem ser fruto de uma relação incestuosa entre a cabeça temerosa e o coração bravio.

Uma vela de curto pavio que se transforma no rastilho para uma explosão de emoções quando o vento que a apaga provém de respirações ofegantes de clandestinos amantes na tela da imaginação.

Em cada descoberta o impacto de uma revelação, mais um troço percorrido a direito rumo a um destino incerto, a travessia do deserto humedecida pelo desejo à solta no som da folhagem agitada no oásis a surgir no horizonte cada vez menos distante na realidade como na percepção.

A surpresa e o encanto quando o sol começa a nascer e o dia não tarda em romper os laços com a madrugada que lhe compete expulsar. A luz que permite desvendar mistérios, os pontos de referência agora visíveis à distância num futuro não planeado à partida para aquela estrada que percorro agora quase a correr…

13
Fev15

A posta que a sério só pode ser assim

shark

São vidas que se mudam, talvez para sempre, quando o amor influencia decisões a tomar. Há um compromisso inerente na tomada de consciência dessas mudanças, na aceitação da influência do outro ou de nós mesmos no pouco do destino que conseguimos influenciar.

Torna-se sério sem que isso derive de uma qualquer imposição social, é mesmo assim. É lógico e é justo enquanto contrapartida para tudo quanto de menos bom pode derivar de qualquer relação amorosa, quaisquer que sejam os moldes da sua construção, nomeadamente a interferência em opções de vida de outra pessoa que poderiam alterar para sempre essa vida para melhor. Ou não.

Essa incerteza, contudo, basta para fundamentar um princípio fácil de enunciar que é o do sentido de responsabilidade não sobre o que cativamos mas sobre o que nos permitimos influenciar. Essa ingerência é tão mais profunda quantos os laços estabelecidos, os compromissos assumidos para viabilizar uma ligação, a sensível questão das cedências.

São essas, no maior ou menor grau de empenho que denunciam. que acabam por definir os contornos de uma relação e por determinarem os moldes (e por inerência os limites) da mesma em termos de capacidade de interferir, ainda que por omissão, na vida de outra pessoa. São os alicerces das regras do jogo e como tal acabam por estabelecer os pressupostos de confiança, as fronteiras que nos permitimos criar dentro do território de quem quanto mais se entrega mais terá a perder.

É aí que o compromisso deve existir sob alguma forma, ainda que baseado numa perspectiva de longevidade sempre falível. Mas pressuposta numa relação mais íntima, mais próxima, mais cúmplice como todas as que dizemos mais valorizar. A moeda de troca é a busca permanente do equilíbrio como o é a preocupação constante em fazer valerem a pena todas as cedências e abdicações que qualquer relação exige para existir sem a anulação seja de quem for.

É isso que permite chamar-lhe amor. E faz sempre mais sentido quando à exaltação do sentimento correspondem a lucidez e o discernimento necessários para o fundamentar.

13
Fev15

À espera de um final feliz

shark

O figurante que aguarda impaciente o momento de pronunciar as três palavras que lhe atribuíram no guião. Que tenta concentrar a sua atenção no cenário enquanto se apercebe, visão periférica, do muito de importante que acontece nos bastidores. Encostado a um muro acabado de erguer, por detrás um mundo secreto onde possa esconder a sua frustração pelo cariz secundário da sua intervenção a fingir-se protagonista. Assiste impotente aos ensaios entre os actores e actrizes principais e quase se sente a mais no meio da pequena multidão que prende quase toda a atenção disponível. Recita mentalmente as três palavras decoradas que são palavras entre pessoas amadas e por isso se sente tão embrenhado no seu papel. O falso protagonista em si, na convicção. Mas quando o realizador grita “acção!” o figurante fica de fora nas cenas mais divertidas, nos diálogos entre pessoas tão amigas que quase parecem sentir o amor construído aos poucos no bastidor onde são pessoas de verdade e algures a amizade evoluiu por outros canais de comunicação. O cinema da emoção genuína, o apelo da proximidade estampado na retina e as câmaras encantadas a filmarem magia a acontecer e o figurante sempre a ver, encostado a um muro acabado de erguer por dentro também. Coração aos saltos para a falsa partida, a acção acaba cortada por causa de uma distracção qualquer da actriz principal. Take dois e outros se seguirão, o figurante com o adereço na mão para lhe entregar no momento de revelar à personagem, a ela também, o porquê da sua insistência em fazer parte de tal filme. Razões que o argumento não prevê, mas são as suas. Os holofotes apontados noutra direcção, o figurante com o adereço na mão para entregar à sua amada na película, a actriz principal concentrada afinal num piscar de olho discreto lançado por ela e retribuído pelo admirador secreto que se veste na circunstância de actor principal e a cena fica estragada outra vez. O adiamento confirmado e o figurante outra vez desolado por passar os dias como simples espectador de uma amizade travestida de amor, marcada pela extrema confiança, pela absoluta segurança no actor principal cuja ausência reclama sem exigir a presença só para evitar confusões. O papel não exige grande esforço nas representações e por isso os descuidos insistem em acontecer. Instintivos, impulsivos, descarados, assumidos como outra coisa qualquer. A actriz faz de mulher e o figurante aguarda a pergunta a cuja resposta se resume a sua intervenção. O realizador grita “acção!” e ela avança e pergunta: - Porque insistes neste papel confrangedor? E ele, cobarde, camufla o amor e responde azedo e corrói a paixão conforme previsto pelo autor do guião, engole no orgulho as três palavras que diria noutras circunstâncias, “porque te amo” e responde desastrado como exige o papel: - Sou um imbecil. É isso que diz. E depois fica a assistir ao resto da filmagem, à espera de um final feliz.

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