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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

21
Fev12

COMEÇAM POR DESABAR AOS POUCOS

shark

Via naquela casa esventrada uma pessoa abandonada pela sorte à sua e que afinal era nenhuma.

Via nos sulcos escavados pelo tempo na fachada as rugas de uma pessoa envelhecida, algures esquecida, à espera do regresso de um irmão imaginário ou de um amigo ilusório para ludibriar a solidão.

Via nas janelas escancaradas, por detrás, os farrapos de cortinas deixadas ao vento, como almas fustigadas pelo tempo até preferirem nem se verem espelhadas naquelas janelas como se fossem elas os olhares de pessoas que via, imaginadas, pessoas escondidas por detrás das cortinas para poderem espreitar a vida dos outros a passar pela sua.

Via essa vida no meio da rua, presente, e tentava transportá-la com a sua mente para aquela casa abandonada, a falsa memória de uma vida passada em todas aquelas divisões coloridas em tons desmaiados pela luz encoberta do sol.

Quase ouvia cantar um rouxinol preso na gaiola agora desmantelada, patética, presa a um pedaço de parede por cair daquela casa deixada ali para morrer. A realidade que não queria enfrentar enquanto sonhava que via naquela casa destruída uma pessoa cheia de vida que a sua mente, crueldade, converteu numa imensa saudade para preencher o vazio criado, de repente, sem saber que deixava pendente uma vida a necessitar de reparações, uma alma esfarrapada por emoções como a que via no espelho, por detrás dos seus olhos encharcados pelas ordens de despejo ali reflectidas.

 

Sentia que com as almas deixadas ao relento, como as das casas abandonadas ao tempo, também as pessoas podem acabar demolidas.

17
Fev12

A POSTA QUE A SORTE É DALTÓNICA

shark

A nostalgia pode muito bem estar a tomar conta da ocorrência, mas eu gostava imenso daquela cena dos furos em que a escolha do furo certo podia implicar a libertação de uma bolinha com a cor certa, a da tablete colossal como parecia a quem não a podia comprar de outra forma. Claro que a bolinha prateada era agulha num palheiro de bolas verdes ou de outras, azaradas, que só nos permitiam um prémio de consolação doce que não bastava para compensar o amargo de boca no olhar para aquela que parecia sempre destinada a sair aos outros.

E claro que na essência as máquinas modernas que não se furam mas gira-se a manivela para sair sempre uma bola de plástico com um papel da cor dos chocolates mais farsolas do mostruário tentador são diferentes mas o resultado final acaba por ser o mesmo, a fava multiplicada por cem e o brinde a sério reservado, às tantas, para outro azarado convicto que nesse dia entende baralhar a sua estatística pessoal.

 

Eu preferia as caixas dos furos, confesso. Logo à partida porque inspiravam um ritual de conexão entre fornecedor e cliente, um momento mágico que nascia da cautela do dono da taberna ou do café para impedir que os mais atrevidos furassem mais do que pagavam a ver se no meio da confusão podiam reclamar a mais favorável das bolinhas às cores saídas mas parecia brotar daquela ligação imediata entre o furador esperançado e o  comerciante que tomava partidos e torcia, porque lhe era igual ao litro.

É pá, calhou-te outra vez um rebuçado! Ainda há bocado veio a chata da Ernestina e tirou uma Comacompão…

Logo essa, a minha preferida e que se esteve alguma vez próxima de um pão foi de passagem para o seu destino solitário no meu interior. Aquilo doía fundo, mas uma pessoa acreditava-se capaz de vencer as ernestinas do mundo inteiro na próxima, naquele furo de sorte que um dia, pela insistência, haveria de acontecer.

 

As novas máquinas automáticas não permitem a batota e retiram à coisa uma parte da sua mística, pois o dono não precisa de controlar a situação excepto quando a moeda encrava.

Mas o dono da papelaria, mesmo com a atenção repartida pelos apostadores do euromilhões a quem ia registando as fezadas, arranjava sempre um instante para o esgar de contrariedade por ter calhado outra vez um chocolate minúsculo de entre os Milka gigantescos reservados para os mais felizardos na escolha feita pela máquina (outra das perdas que o progresso implicou).

E às vezes até contava a história da senhora do cinco rés-do-chão que tinha tirado um chocolatão que os nossos olhos nunca viam sair a alguém.

 

O senhor da papelaria, marido, pai e avô, tentava à sua maneira recriar o tal ritual do tempo jurássico das caixas dos furos, parecia um tipo porreiro.

E tenho a certeza de que hoje iria torcer o nariz quando lesse na sua banca a notícia do homem, marido, pai e avô que ontem apareceu morto na Bobadela junto à linha do comboio, por entre o seu olhar de esguelha para o tom do papel calhado em sorte a alguém.

 

Mas foi mesmo ele a quem saiu desta vez a pior cor.

15
Fev12

A POSTA NUM SPAM VERY ISPERTO

shark

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12
Fev12

A POSTA QUE É UMA MARAFILHA TÊ-LA

shark

Avançamos com a ideia porque entendemos natural, porque sentimos que faz sentido, ou apenas porque sim. Mas nesse mesmo instante partilhamos a alegria, a euforia inigualável dessa revolução a caminho, com a noção dos riscos implícitos na que me parece ser a decisão mais importante da vida de alguém. Quando entendemos conceber um filho não sabemos da missa a metade em matéria dos riscos que aceitamos em conjunto com a missão que acabamos de abraçar e ainda por cima descobrimos ao longo do caminho que muitos desses riscos não desaparecem, antes se adaptam à fase da vida em evolução e acrescentam alguns que, muitos deles vindos de fora, ainda menos conseguimos controlar.

 

É a aposta de uma vida, em sentido literal. Quando as lágrimas de alegria nem encontram um caminho por entre o agigantar dos olhos que contemplam um filho pela primeira vez percebemos a verdadeira dimensão do que sentimos nos braços como o maior privilégio que um ser humano pode conceber.

Nada será igual no futuro de a quem compete agora, e no topo de qualquer prioridade, acautelar dois. E uma parte das novidades que aguardam quem veste a pele do progenitor consiste precisamente no cardápio dos riscos corridos que, em boa medida, passam pelos riscos que se deixam correr, pelas distracções, pelas omissões, pela negligência na protecção da cria que basta o instinto para nos incutir.

A nossa vida, tal como a experimentamos, assume-se directamente responsável por aquela outra que criámos e agora se expõe indefesa às múltiplas ameaças que até na própria casa se podem revelar e alimentam de tragédias evitáveis as parangonas.

 

O risco de ter um filho engloba todos os riscos que ele implica ao nível do quotidiano dos pais, nem sempre favorável à disponibilidade para o mais importante dos papéis, mais os que acarreta assumirmos os dos filhos como nossos, precisamente porque somos nós quem tem que os acautelar.

Contudo, todos os riscos que corremos, de forma voluntária ou não, fazem parte de uma existência normal e ainda que não sejam riscos calculados, porque impossíveis de avaliar, acabam por ser aceites e na maioria dos casos até parecem justificar-se.

 

E se existe um risco, ou um milhão, associado à decisão de criar um filho o meu exemplo pessoal pode muito bem somar-se aos estandartes de todos quantos afirmam com o mesmo brilho nos olhos que esse será sempre de entre os que se correm aquele que elegemos como o mais compensador.

11
Fev12

A POSTA QUE EU ACHO. EM TONS LARANJA E LAIVOS ROSADOS

shark

Eu acho que dar importância à expressão “piegas” quando provinda da boca de um Primeiro-Ministro de uma nação mergulhada numa crise sem precedentes no tempo de vida dos portugueses a quem a dedicou é um desvio colossal da concentração necessária para cumprir à risca as instruções do ministro das finanças alemão (ou chinês, ou angolano, ou qualquer outro que se disponha a entrar com a massa) e tudo o resto são pintelhos a que nem um líder da oposição que se recusa a governar o país antes de 2015 (deve ter várias entorses agendadas até lá), numa abstenção violenta perante a gestão ruínosa como ele próprio a define, ousaria enfatizar nas suas intervenções tão discretas quanto inconsequentes.

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