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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

18
Jan11

CRIME NA FOLHA EM BRANCO

shark

A pontuação aglomerou-se em redor do local do crime, com os habituais mirones a darem palpites e as forças de segurança a criarem um perímetro para impedir demasiados avanços por parte da turba.

 

As reticências limitavam-se a levantar hipóteses que deixavam a meio, penduradas, horrorizadas como estavam com a visão daquele pobre travessão inerte na calçada.

Os pontos e vírgula não adiantavam nada à conversa, caducos, intervalando aqui e além as intervenções dos restantes, alguns absolutamente impávidos perante o triste cenário.

Junto à margem da folha, o agente ponto de interrogação questionava os principais suspeitos e as testemunhas da ocorrência, tomando notas acerca dos factos mais relevantes enquanto o detective parêntesis deixava em aberto todas as possibilidades até que um seu homónimo pudesse encerrar o processo.

 

O tempo ameaçava chuva e os assentos circunflexos, intimidados pelos olhares de cobiça da pontuação desprevenida, seriam os primeiros a bater em retirada perante o ar contrariado dos dois pontos que já procuravam com o olhar um ponto de exclamação, à falta de um jota, para fazer de cabo para o improvisado chapéu.

E foi então que os sorrisos trocistas da imensa pontuação ali reunida desapareceram, perante a chegada do filho da vítima, o tracinho lavado em lágrimas a quem as aspas trataram de imediato de afastar para o rodapé no sentido de lhe prestarem o apoio psicológico que a situação requeria.

 

O ambiente era de consternação quando chegou a ambulância com o hífen-legista e o cadáver do travessão foi retirado do piso da folha branca manchada com o borrão que assinalava de forma macabra a tragédia ali ocorrida, uma pancada de algo semelhante a um bastão em cheio no inocente travessão que passeava descansado.

 

E ainda se desconhecia o culpado, embora constasse que o ponto de exclamação seria submetido ao teste do polígrafo, quando o ajuntamento foi dispersado pelo ponto final parágrafo.

18
Jan11

A POSTA NUM CARDÁPIO DE TABERNA

shark

Então temos meia dúzia deles. São cinco em variações de cinzento e um em tons garridos, pois faz sempre falta nestas coisas o colorido que o humor popularucho sempre empresta.

 

Temos pois uma figura austera a roçar o sinistro, uma espécie de cangalheiro repetente que joga bem com as cortinas tombadas sobre o palco no qual a democracia parece andar a interpretar todos os dias o último acto do seu evidente desgaste à mercê de vilões e de cúmplices em profusão, perante uma plateia inerte de alimárias.

 

Também dispomos, neste menu de dieta ideológica, de um clone do primeiro candidato do PC e do segundo e por aí fora. Mais do mesmo, a alternativa do costume com o discurso habitual para que pelo menos uma parte do eleitorado possa sentir que a coisa está tal e qual como nos tempos gloriosos em que unidos venceríamos mas afinal acabamos por só servir para empatar. Ou para ajudar a levarmos uma goleada de tal forma pesada que nem vale a pena disputar a segunda mão da eliminatória.

 

Olhando para a ementa ainda encontramos o que alguns afirmam ser uma lebre socialista mas a maioria vê como um daqueles irritantes pequinois que se insurgem furiosamente contra o grand danois sorumbático, barulho à brava, no intuito de marcarem o seu pequeno território e, em simultâneo, contribuírem com o mesmo efeito de divisão dos pães que acabará por deixar à míngua uma canhota trapalhona nas decisões nesta matéria.

 

Como em todas as oportunidades de projecção mediática, seja o Big Brother ou uma eleição presidencial, aparece sempre um tiririca para animar a malta. Desta vez saiu na rifa um homem brincalhão de um partido a reinar. E reina a animação na comitiva insular e de vez em quando um ou outro encontrão de quem não tem sentido de humor para brincadeiras em tempo de decisões sérias ou simplesmente desatina com a atitude folgazona de um candidato a Presidente capaz de desfraldar uma bandeira nazi em pleno parlamento regional. Não dá uma para a caixa mas sempre agita um nadinha as águas paradas que os da política dita séria não param de meter.

 

Podemos ainda escolher o candidato que dizem de inspiração humanitário-soarista. Talvez não baste o tempo que resta para a malta perceber porque se meteu o homem nisto e ainda tentar decifrar a lógica ou o objectivo da sua argumentação que, de resto, tem um ponto em comum com a do candidato com perfil de gerente (perdão, presidente) de agência funerária: também este recusa o estatuto de político e, por inerência, assume o de pára-quedista desta andança (já que o outro não consegue enganar ninguém com tal discurso depois de anos a mamar da mesma vaca que agora alega só conhecer de vista).

 

E para a sobremesa desta posta temos o candidato que resta, uma verdadeira montanha (salada?) russa de emoções para a malta de esquerda, ora murcha ora arrebita, e que tem o mérito de conseguir(?) juntar no mesmo ramalhete as rosas do seu passado antifascista com o bloco de cardos que mais mossa lhes poderão causar à esquerda nas próximas legislativas, num daqueles casamentos por conveniência no qual já toda a gente topou que os membros do casal dormem em camas muito separadas.

 

Mas no próximo fim-de-semana é essa a ementa disponível e quem não votar já sabe que tem que comer o que lhe puserem no prato.

E de acordo com as sondagens na cozinha, vai ser outra vez comida requentada…

17
Jan11

VISTO DE FORA

shark

Perdido, desorientado, num ponto qualquer do reverso do seu pequeníssimo universo interior, desencontrado da vida pelas tropelias do acaso que lhe trocavam as voltas como gostava de as planear.

Virado do avesso, pendurado num estendal para a secagem sem sucesso por causa do sol que parecia nunca nascer e continuava molhado depois da lavagem ao cérebro a que acreditava ter sido submetido por uns gajos que apareceram na televisão.

Em cativeiro numa prisão espacial de máxima segurança, o seu próprio guarda prisional para eliminar qualquer esperança de uma fuga possível, sem conhecer as coordenadas daquela fria masmorra onde travava a sua guerra contra a loucura que o condenava, inocente, a uma vontade permanente de escapar a si mesmo que o afastava dos outros que nunca entendiam os argumentos da defesa e se assumiam jurados de acusação num tribunal de fachada que decorria à porta fechada na sua mente em sessões contínuas de um filme alucinante que vivia num ponto qualquer do reverso do seu infinito universo onde flutuava perdido, desorientado, à deriva entre paredes imaginárias com estrelas pintadas para o sossegar com a ilusão de uma liberdade que sabia não usufruir porque se sentia implodir à mercê do crescente aperto do torniquete daquilo que imaginava um capacete associado ao colete de forças no seu cérebro encharcado pelas lágrimas que não conseguia verter.

16
Jan11

A POSTA QUE O TUBARÃO NÃO TOSQUIAM

shark

Eu sei que isto da política é algo de maçador e quem me lê até nem mostra particular entusiasmo pela insistência no tema, mas o país também está a acontecer lá fora e eu temo que no meio do barulho das luzes a malta se esqueça de que vem aí mais uma oportunidade de pensarmos pelas nossas cabeças e, pelo menos, baralharmos as contas dos que cada vez mais parecem convictos da noção de que sabem tudo o que vai na alma da carneirada em que nos deixamos transformar.

 

Como a maioria, e mesmo os que votem Cavaco, preferia um naipe de candidatos melhorzinho e uma campanha eleitoral com o sangue fervente de outros dias.

Contudo, as coisas evoluíram para contornos surrealistas nos quais os fracos políticos da nossa praça parecem querer dar razão aos que os apelidam disso mesmo: fracotes. E essa verdade anda estampada nos escaparates dos sucessivos episódios que descredibilizam não apenas as figuras de proa mas, por tabela, todas as que lhes sejam próximas.

No meio disto tudo ficamos na dúvida acerca de um Primeiro-Ministro a quem ninguém pode negar ter tido a vida passada a pente fino em busca de algo que pudesse entalá-lo e, até ver, népia, e agora começam a surgir as minhocas a cada cava(ca)dela nos negócios simples e singelos, quase pueris, como o actual e provável próximo Presidente desta república os tenta pintar.

De repente damos connosco prestes a ter que ir votar para, de acordo com as sondagens, apenas confirmarmos a reeleição de um político que renega essa condição e que se recusa a explicar de viva voz e com a confiança dos inocentes todas estas coelhadas bancárias em que a sua participação não pára de meter as orelhas de fora.

 

É por isso que ainda acho valer a pena insistir em maçar-vos, pois acho que com a mesma prontidão com que (quase) toda a gente se apresta para substituir o suspeito do costume por uma verdadeira incógnita julgo que na mesma linha de actuação deveria estar (quase) toda a gente desertinha por afastar o insuspeito da treta e arriscar em quem, pelo menos até ver, ainda tivesse o cadastro político irrepreensível (na medida do possível, claro, pois tenho consciência de que estou a roçar perigosamente o reino da utopia) e não fosse arrogante como parece ser pecado nuns e não ser defeito mas feitio quando aplicada a supostos imaculados e só por isso intocáveis.

 

É por isso e mais umas coisitas que vou mesmo cumprir com gosto a minha obrigação moral, votando em conformidade com a minha forma de ver e de querer as coisas e não misturando alhos e bugalhos pois as legislativas são outro campeonato do mesmo futebol, e tento alertar-vos para a necessidade de assumirem de uma vez por todas de que lado está a vossa forma de ver o mundo.

Sim, devia já estar disponível a terceira via.

 

Mas por enquanto só temos mesmo dois lados para escolher.

15
Jan11

O MEIO OU O FACTO?

shark

Num tempo em que a Comunicação Social, ou uma sua importante fatia, perde credibilidade aos olhos de cada vez mais pessoas e na internet fenómenos como a blogosfera e as redes sociais se impõem aos poucos como fonte de informação alternativa coloca-se de forma cada vez mais premente uma questão que está longe de ser respondida behond any reasonable doubt: a credibilidade depende do suporte, do meio através do qual a informação é veiculada, ou antes do seu teor?

 

Parece pacífico, não é? De caras, a maioria de nós aponta para o suporte. Se passa nos jornais, na rádio ou na televisão é verdade com (quase) toda a certeza, mesmo que seja mentira. E se a informação nasce num blogue é provavelmente (quase certo) que deve ser mentira ou exagero, ainda que corresponda na íntegra à verdade dos factos, sobretudo se contrariar a versão oficial divulgada pelos media tradicionais.

Contudo, quando pensamos um pouco acerca do assunto as coisas não parecem tão claras como no impulso apriorístico...

 

Em causa está o rigor informativo. Ou seja, o reconhecimento generalizado da credibilidade de determinado suporte. E se antes da internet a questão era mais ou menos ponto assente e às pessoas bastava lograr a distinção entre bom e mau Jornalismo, a comparação fácil entre o Jornal do Incrível e um semanário como o Expresso, agora surgem em cena novas fontes de informação cada vez mais percepcionadas pelas pessoas como, pelo menos em parte, válidas enquanto opção a uma Comunicação Social sob diversas suspeitas, nomeadamente a do estatuto de refém dos profissionais relativamente aos colossos corporativos que dominam o seu mercado de trabalho, algo de que um amador independente não padece quando se propõe informar.

 

Bom senso ou senso comum?

 

E é aqui que se levanta a tal questão complicada: faz sentido tomarmos por garantida uma informação errada só porque é divulgada por um Órgão de Comunicação Social e duvidarmos de forma sistemática de uma verdade que provenha de um blogue ou no Twitter?

Não faz assim tanto, quando colocamos a coisa neste prisma, mesmo tendo em conta o perigo inerente à rédea solta de qualquer cidadão que bloga (e falo do perigo da desinformação como do perigo da informação “desaconselhável” - o Wikileaks, pois... - na sua influência determinante até para a estabilidade de regimes políticos e da própria organização social e da reacção das populações perante os factos que descredibilizam alguns poderes), por contraponto com a responsabilidade (teórica) de um jornalista acreditado ao serviço de uma publicação qualquer.

Mas depois recordamos o calibre de alguns estagiários capazes de picarem notícias na net sem sequer divulgarem a respectiva origem e reparamos que não são poucos os jornalistas a sério que recorrem a meios como a blogosfera e as redes sociais para fugirem a uma liberdade condicional (condicionada) de expressão que a simples necessidade de manutenção de um posto de trabalho pode implicar.

É aqui que se baralham as contas e o futuro se escreve com contornos menos definidos do que daria jeito aos vários poderes, sempre pragmáticos, no que respeita a quem irá vencer esta guerra de audiências em matéria informativa.

 

O problema é que às debilidades de uma internet que no Ocidente não se aceita controlada para lá do plano da responsabilidade civil, da sujeição aos mesmos princípios que regem as relações entre pessoas e instituições no mundo analógico e que, por exemplo, proíbem e condenam a difamação e a calúnia, tal como não se imagina filtrada seja de que forma for em termos de acreditação dos seus protagonistas (a tal história de uma blogosfera séria e de alguma forma reconhecida em termos institucionais e de uma outra só para “brincar”), correspondem as evidências de uma progressiva perda de isenção e até de rigor por parte de quem até hoje deteve o monopólio da informação em massa.

 

E é nesse crescente equilíbrio de forças que residem as maiores ameaças e interrogações, embora, paradoxalmente, se vislumbrem aí também as melhores oportunidades para um dos pilares mais sólidos de qualquer democracia como gostamos de a entender, a liberdade de expressão responsável (mas sem espartilhos de conveniência) que nos compete defender.

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