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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

30
Jun09

A POSTA QUE NÃO TENHO RAZÃO

shark

Ensinaram-nos de pequenos que uma vida digna a trabalhar seria garantia de sucesso e nada nos iria faltar que fizesse, de facto, falta. E alguns de nós até compraram a ideia e decidiram mergulhar nessa onda da dignidade e da honestidade e da incorruptibilidade que, alegadamente, fariam toda a diferença nesse futuro risonho para (todas) as pessoas de bem capazes de exercer um ofício e de não caírem nas garras de um vício qualquer, jogo e assim, que desequilibrasse os pratos da balança.

 

Claro que como em tudo na vida ninguém falou nas letrinhas pequenas que o progresso sempre inclui no contrato social que assinamos em função da sorte, do acaso, do mérito e das características pessoais de cada um/a. Coisas impensáveis na época em que os nossos pais nos educaram, como o crédito ao consumo inventado para todos nos sentirmos no direito de ter um plasma igual ao do vizinho de cima que até desvia uns fundos para se governar, economia paralela, mas ninguém gosta de fazer má figura e a coisa até soa simples no discurso publicitário das prestações a perder de vista (com TAEG’s a passarem bem depressa e, lá está, em letras bem minúsculas no rodapé). Ou ainda mais impensáveis, como a União Europeia, o fim do Escudo, a globalização e todas as (fracas) explicações para os sarilhos que agora enfrentamos sob a forma de uma crise financeira global que arrasta a queda das bolsas aos bolsos dos cidadãos de classe média. Nomeadamente aqueles que compraram o tal conceito de que vos falo no intróito e entenderam virar a cara à vida fácil da marosca, do gancho, do esquema, da cunha ou de qualquer outro expediente daqueles que engrossam de forma determinante o pecúlio dos que definem valores como montantes e nada mais.

 

Desgovernados, é o que somos aos olhos de todos quantos cuidaram de poupar como a formiguinha ou de o ganhar como a ratazana enquanto as cigarras desta vida estiveram entretidas a tocar bandolim. Ou assim. E até pode vir a dar jeito nas estações do metro em que alguns de nós acabarão por encontrar o ganha-pão que a tal crise já roubou a muitos e certamente roubará a uns quantos mais, mas presumo que também aí a concorrência será feroz e a generosidade cada vez menos mãos largas.

Olhamos em redor, buscando os sinais desse desgoverno. Os carros topo de gama, as casas de praia no Algarve, a roupa de marca a atafulhar o guarda-roupa da vivenda geminada num condomínio privado qualquer. E não os encontramos e depois ficamos sem saber o que dizer a quem nos interpela no sentido de obter primeiro uma explicação para o saldo negativo da conta e depois nos confronta com a dura realidade do temos pena mas as coisas são mesmo assim e a gente crescidos demais para o recomeço após o fim da nossa existência financeira legal.

 

As portas ficam todas fechadas aos que se deixam arrastar pelo turbilhão do incumprimento se quiserem encontrar uma forma de sustento depois de repartido o património entre os principais e eficazes credores. A banca encarrega-se de garantir o funeral da dimensão social dos que se deixam preguiçar à sombra das expectativas criadas no dia em que abraçaram uma forma de estar sem mácula à imagem e semelhança da maioria dos nossos avós que honravam compromissos, pagavam com a sua palavra e tinham vergonha de dever fosse o que fosse a alguém.

 

É essa a verdade que só uma crise revela em todo o seu esplendor, quando as prestigiadas e muito lucrativas instituições financeiras que fazem andar a economia começam a fazer sentir a sua presença sem sorrisos por detrás do telefone ou do balcão. De bestiais a bestas num estalar dos dedos da mão, a partir do momento em que as coisas não corram tão bem. Dos cheques de milhares de euros para simbolizarem o crédito pré-aprovado para o tal carro agora rebocado para a empresa de leilões à simples retirada do privilégio da sua emissão para pagar as compras no talho ou qualquer outra despesa que mesmo nos nossos dias consideramos primordial.

 

É essa a realidade de um país minado pela ganância oportunista daqueles que comeram a carne e nos desdenham agora os ossos para eles tão tenros de roer. É isso que nos faz doer, a constatação de que nunca vale a pena ser decente e cumpridor e fazer sempre questão de ganhar a vida de forma honesta e orgulhosa no seu cariz (cada vez mais) excepcional num mundo de crápulas e de medíocres que vêem nos espelhos apenas a imagem do sucesso e nunca o esterco que acumularam nos bastidores enquanto pugnavam de forma habilidosa para o assegurar.

 

E é essa uma das principais razões para muitos de nós hoje considerarem seriamente a hipótese antes impensável de emigrar.

30
Jun09

O MUNDO ACORDOU ASSIM...

shark

Mais um Airbus perdido no mar, desta vez no Índico.

E um comboio carregado de GPL que explodiu na pacata Viaregio, treze vidas perdidas de gente que apenas teve o supremo azar de por ali passar à hora errada ou apenas fazia em casa as coisas que se fazem sem acreditar que estas coisas acontecem e mudam tudo ou acabam de vez com a nossa frágil existência à mercê das coincidências foleiras.

 

Um presidente deposto por querer perpetuar-se na condição e um outro eleito com marosca que ninguém permite averiguar. A democracia a sangrar nestas aberrações perpetradas com as suas convenientes fachadas que tanto tranquilizam os que esquecem que o Adolfo um dia também participou num plebiscito e até o ganhou.

 

O mundo a acordar num dia farrusco de Verão e eu a perder tempo com a televisão que nada de bom parece ter para dizer nos noticiários onde os chouriços se enchem com as tretas ligadas ao futebol e cada vez é mais imbecil o fait divers para desanuviar...

29
Jun09

PENA (DA) CAPITAL

shark

Era a final do campeonato de futebol, escalão júnior. Miúdos, com as famílias presentes mais amigos e alguns adeptos.

Chegaram elementos da claque do Benfica e consta que mandaram pedras aos apoiantes do Sporting presentes nas bancadas de um campo de futebol mais próprio para finais de competições de bairro.

O jogo foi interrompido devido à proporção dos desacatos. Um jogo do escalão mais jovem, aquele onde ainda se formam mentalidades e se preparam futuros campeões. Entre os dois maiores clubes da capital.

 

Que assim voltaram a envergonhar os que a chamam sua.

26
Jun09

A POSTA CALVIN KLEIN

shark

pub ck

 

Só ontem fiquei a conhecer o mais recente nojo dos hipócritas que se não olhassem não criticavam. Mas olham, olham muito e depois de ultrapassado o choque de gostarem demais passam ao ataque puritano com as mais estapafúrdias motivações.

Não é novidade, a reacção conservadora à publicidade mais arrojada da Calvin Klein. E em condições normais nem haveria muito a dizer acerca de mais um lápis azul (a versão vídeo foi proibida) da moralidade de baú que tenta riscar do mapa tudo quanto sejam saias acima dos joelhos ou decotes abaixo da sua medida padrão, do limite traçado à fundamentalista.

Mas esta reacção urticária em particular, a propósito da mais recente campanha da CK, chama-me a atenção pelos contornos do anúncio em causa. E em causa está uma foto de uma jovem em tronco nu que beija um rapaz. Mas o problema não reside aí, já que daquilo que os caretas não gostam pouco se vê. O problema consiste no facto de haver mais dois rapazes na foto, o que deve ter feito disparar os alarmes todos nas cabecinhas porcas dos beatos do costume.

É que dá ideia de que a miúda tá ali para aviar os três moços e isso, gente boa, é que não pode ser!

 

Aquilo que me ocorre, ultrapassada a náusea inicial que o puritanismo de pacotilha sempre me inspira, é que a reacção hostil não pode derivar senão dessa alusão velada ao sexo em grupo, mais concretamente num grupo onde só existe uma gaja e, horror dos horrores, até parece ser ela a controlar a situação. E isso é que a seita puritana jamais poderia tolerar. Para mim é apenas essa a parte “pornográfica” da imagem como a entendem os que não gostam mas nunca deixam de deitar o mirone para manifestarem o seu desagrado só depois.

É que por norma onde existe um tipo cheio de pudor esconde-se um machista capaz de ignorar (em princípio…) uma peitaça masculina sem pelos no anúncio a um desodorizante ou assim mas sem tolerância para com a mesma imagem no feminino. Ora, nos tempos que correm é tão natural ocorrer um pensamento pecaminoso do tipo que bela e quente chupadela que dava naquele mamilo a um gajo como a uma gaja e isso coloca as mamas num plano de absoluta igualdade em termos de escandaleira potencial.

E quanto às puritanas, uma espécie ainda mais feroz, repugna-lhes a visão do paraíso a entrar-lhes pelos olhos adentro no seu inferno interior. Revoltam-se com o prazer alheio e jamais admitiriam exposta a verdade que negam nas suas vidinhas reclusas.

 

A grande bronca da tal foto consiste no facto de ser ela quem manda, quem controla, quem decide como e com quem fazer o quê. Um sinal dos tempos capaz de enfurecer o mais amorfo dos totós que só servem para empatar os outros com o seu terror à liberdade de expressão quando esta exprime uma verdade que colida com os seus pruridozinhos da treta.

E depois vão a correr para um canto escuro onde fantasiam com a irmã da canhota tudo aquilo que tanto os repugnou, uma gaja dominadora, liberal, resolvida. E livre de fazer, o que muito apoquenta estas alminhas castradoras capazes de pressionarem uma proibição.

 

Mas incapazes de crescerem, de aceitarem qualquer tipo de evolução. 

25
Jun09

SINAIS DE FUMO

shark

Um abraço de fumo à imagem protagonista de uma ausência que o cigarro aceso não distrai, o olhar preso ao chão, e o cigarro numa mão parece querer dançar no espaço com o ar enquanto se desfaz em cinza.

O enterro prematuro da beata, esmagada no fundo de um cinzeiro pertencente ao pecador que pensava um amor quando tentava afastar de si a ideia que queria abraçar enquanto parecia querer fumar a saudade que o sufocava.

A tosse mental por excesso de nicotina na lembrança que imagina tão nua, vontade de ir para a rua inspirar. Um romance por escrever naquela história a acontecer de uma vitória do coração.

Os restos de salmão fumado no prato entretanto abandonado à sua sorte na mesa de um restaurante situado mesmo à beira do mar.

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