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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

31
Jul07

PENA MÍNIMA

shark
Para o psicopata ex-GNR acusado do assassínio de três miúdas suas vizinhas. Vinte e cinco anos.
Sabe a pouco. São pouco mais de oito anos de punição por cada uma das vidas que o canalha cada vez menos alegadamente ceifou.

Conhecendo a tradição do país em matéria de generosidade da aposta no milagre da reinserção social, aquelas reduções de pena por bom comportamento de qualquer facínora que acabam por o libertar vários anos antes de cumprida a sentença na totalidade, é bem provável que o fulano saia vivo da penitenciária de onde, no meu entender, jamais deveria sair.

Existem casos e réus cujos contornos extravasam a capacidade humana de entendimento. Crimes tão hediondos e criminosos tão cruéis que ninguém numa sociedade com dois dedos de testa quer ver punidos de forma ligeira.
Em alguns países, a morte é a consequência para os culpados de aberrações que provocam uma onda de choque, um medo instintivo tão forte que leva as pessoas a preferirem fechar os olhos à barbárie implícita numa pena capital.

Vinte e cinco anos de pena máxima são um insulto a todas as vítimas e seus familiares quando está em causa o assassínio premeditado de alguém, sobretudo quando os detalhes provados não deixam dúvidas quanto à natureza aberrante de quem o cometeu.
Ninguém acredita numa Justiça tão branda e o primeiro impulso mental é o da justiça com minúscula, pelas próprias mãos das pessoas afectadas e a quem pena alguma pode compensar uma perda tão trágica mas, de todo, não merecem o insulto de saberem um criminoso mais jovem de novo nas ruas em idade de repetir a façanha.

Como um advogado do processo Casa Pia referiu há dias, a propósito do seu desencanto pelo rumo que o processo tomou, é preciso que neste país a justiça se concentre pelo menos tanto nos esquemas de protecção dos direitos das vítimas como se esforça no interesse dos prevaricadores.
É isso que está em causa, tal como a inevitável conclusão que se retira desta “alergia” do sistema a penas mais pesadas, nomeadamente a única capaz de garantir a segurança dos cidadãos e conferir aos injustamente acusados condições (e tempo) para provarem a sua eventual inocência (o que a pena de morte nunca permite e os erros já se provaram acontecerem).

E essa conclusão é a de que sai caro sustentar o sistema prisional e no entender deste Estado sem coração a pena dos que sofrem a perda é mais barata do que uma pena a sério para os seus causadores.
30
Jul07

NUM TEMPO QUALQUER

shark
cadárvore.JPGFoto: Shark
Nos ramos, pássaros famintos pareciam aguardar que o vento lhes trouxesse notícias da terra onde a abundância (na cabeça de um pássaro) certamente saberia voar.Mas bastaria chover e isso parecia não estar para acontecer, tal como já não acontecia há mais tempo do que qualquer daqueles pássaros conseguiria lembrar.

Lá por baixo, outras criaturas resistiam como podiam, as pessoas, ao calor insuportável, à sede e ao pó.
A sua pele falava, como a de velhos pescadores, da aridez que sulca as cútis como antes, no tempo em que os pássaros famintos ainda não passavam os dias em galhos onde acabavam por morrer novos demais, os arados rasgavam a terra para as outras criaturas, as pessoas, conseguirem comer algo que não os corpos esqueléticos dos pássaros a quem as árvores não conseguiam deitar a mão num momento em que o vento entendia soprar mais uma vida para o chão.

Cansava, só de os ver naquele arrastar do padecimento, as pessoas, calados pela planície em busca de sucessivos nadas em que se convertiam as miragens, alucinação, que lhes traíam o olhar e os convenciam a andar, quantas vezes, uns passos demais.
Caíam como os pássaros, primeiro os novos e depois os velhos, levantando uma pequena nuvem de poeira que parecia uma alma acabada de sair do inferno e ficavam ali até que alguém passasse que os transportasse sem pressa até à mais próxima vala comum.

Nos ramos, pássaros famintos com os bicos escancarados pareciam ignorar que há muito os milagres não aconteciam naquela terra massacrada pelo sol. Aguardavam a morte sem chegarem algum dia a experimentar a vida que lhes era destinada viver. Noutro tempo qualquer e nunca naquele espaço onde se tecia cada pedaço de uma manta ilustrada que contava as histórias de dor que os lá de baixo, as pessoas, insistiam em contar por entre o princípio do fim e o momento da respectiva consumação.

Eram gritos de alerta aos viajantes, os que passavam distantes temendo algum assomo de força do desespero naqueles corpos ressequidos e quase privados de locomoção. Temiam um surto de ladrões, ou de outra doença esquisita e naquelas paragens quase sempre fatal para quem dela não conseguia fugir.

Daquela terra já não fugia ninguém. Nem os pássaros famintos nas árvores despidas, poucos que restavam, eram estúpidos e por isso não ousavam voar em busca da terra da abundância que, existindo, certamente voaria até aos pássaros cujas forças já não permitiam lá chegar a tempo de evitar o mesmo destino que nas árvores aguardavam em paz.

Naquele lugar, todos sabiam, os pássaros nas árvores e os lá de baixo, as pessoas, que a salvação ficava sempre, em qualquer direcção, a uma distância comprida demais.
29
Jul07

DE DENTRO

shark
vida imensa.JPGFoto: Shark
Agradeço à vida a paixão que incendeia os meus dias com uma labareda que os enche de luz.
Agradeço-lhe a emoção que me seduz e me arrasta sem rumo, subida e descida, pelos seus caprichos de vida que põe e dispõe de tudo o que sou.
Cada momento um agradecimento que lhe dou, ou devia. Uma vida vazia é como um espectro macabro e eu fujo (deserto) desse horizonte cinzento como o diabo da cruz.

Agradeço à vida cada lágrima vertida, essa água salgada que o sentimento mais forte produz.
Agradeço-lhe a alegria e perdoo-lhe a tristeza, contraponto, que enfatiza o que sinto e ensaia o coração para enfrentar qualquer dor.
Agradeço-lhe acima de tudo o amor e a amizade que o defende com aquilo que se aprende do que vale uma relação.

A vida com paixão, intensa, uma existência tão imensa que se acredita imortal.
A emoção, intemporal, que perdura para lá do que entendemos como um fim.
A eternidade garantida assim, no testemunho deixado de um amor acabado, ira divina, ou de um conto de fadas para encantar gerações.

O bater dos corações, infinito, acelerado por um amor tão bonito que inspira criadores.

Uma vida plena de amores tão perfeitos, mesmo depois de desfeitos pelo mesmo tempo com que a vida nos transforma um dia em pó.
Uma vida que vale por si só, recordações acumuladas das paixões assolapadas, obrigado num sorriso dedicado à vida no dia em que morrer.

E também quero agradecer a todas as vidas que a minha amou pois nessas vidas se inspirou o que de mais belo senti, mesmo a ilusão.

E ofereço estas palavras como penhor da gratidão.

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