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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

29
Nov06

PARADOS NO TEMPO

shark
A "minha" blogosfera, aquela que incluo na deambulação pelos espaços que aprecio, não cessa de me pregar cagaços ou mesmo de me dar desgostos. É que um gajo habitua-se a estes pequenos prazeres e assume-os quase como um ritual, dá-se pela falta deste ou daquele pouso habitual e a sensação é esquisita.
É que bem vistas as coisas, quando um blogue congela no tempo ou pura e simplesmente desaparece a gente sente a coisa mais ou menos como naquela situação em que nos damos bem com um vizinho e até parece que um dia podemos vir a ser amigos e tal. E de repente descobrimos que esse vizinho resolveu mudar de casa e não deixou rasto algum...

Não sei se será o caso do Auto Estrada do Norte, um blogue ao qual me afeiçoei deveras, e do Blue Velvet, um clássico da minha visitação.
Mas a confirmar-se o pior, sinto isso como uma perda.

A "minha" blogosfera anda assim...
28
Nov06

UM NATAL LIGHT, COM GELO E LIMÃO

shark
velho das barbas.jpg
Já tresanda. A inauguração oficial da maior árvore, barulho das luzes, e o ressurgimento da Leopoldina, a iluminação artificial das ruas e o massacre dos anúncios a bonecas com telemóvel e a telemóveis com bonecos mais os folhetos em barda na caixa do correio em vez dos postais que caíram em desuso. A tensão crescente de ver o subsídio a escoar-se nas mazelas do Verão à rica enquanto se aproxima o momento inevitável de enfrentar a multidão apressada das compras de última hora.
Pelo meio, os poucos que tentam relembrar a malta que não foi o pai natal quem nasceu nesse dia cada vez mais coke e ainda menos os que se esforçam por cultivar um espírito da coisa que não aceita visa ou mastercard.

Entro sempre em conflito interior nesta quadra natalício-consumista que parece desenhada para se autodestruir em labaredas de saturação. Gosto do pretexto que o Natal oferece para sermos todos um nadinha diferentes, um pouquinho melhores do que no resto do ano em que a vida nos absorve num galope desenfreado que não deixa espaço para nada ou ninguém. E desgosto assistir à cedência colectiva a toda a pressão comercial que desaba nos ombros fatigados da maioria de nós.

Para muitos a coisa coloca-se em termos próximos do martírio. “Tenho que dar uma prenda a fulano porque ele deu-me uma treta qualquer no ano passado. E outra a sicrano porque é um gajo importante na organização que me fez um favor. E o puto quer uma consola xpto e estão esgotadas. E não posso esquecer-me do par de peúgas para cumprir o ritual.”
Ala que eles aí vão para os hipermercados, para as lojas de rua, “sim, é para oferecer”, as lâmpadas novas para a árvore, com música, compradas na loja do chinês em conjunto com as oferendas baratas para cumprir calendário na consoada embrulhada de um vizinho ou de um amigo afinal só “conhecido” que se presenteia quase por obrigação.

A generosidade imposta por oposição ao clima de festa desinteressada, o sorriso espontâneo (que deveria contagiar os cristãos como os ateus) convertido num esgar de desagrado pelo frete de ter que ir comprar.
Os natais dos hospitais e coitadinhos dos pobrezinhos, as reportagens da praxe acerca das vidas geladas na marginalidade de um universo paralelo, desabrigadas em caixas de papelão. As sopinhas que lhes dão, para borrifar um pouco de humanidade na rotina da cidade que os ignora um ano inteiro e agora esbanja o dinheiro numa farsa mercantil.

Não é esse o meu natal, embora baste uma filha para me ver enredado de alguma forma nos brinquedos da moda que a bombardeiam nos seus canais de televisão. O medo de a fazer sentir-se inferiorizada relativamente aos amigos e colegas, vaidosos de pequeninos com o seu karaoke da floribella e outros sinais exteriores da riqueza que um dia irão alardear como os progenitores.
A herança que deixamos da banalização que alimentamos com a nossa incapacidade para impor aquilo que se sabe ser mais bonito mas não encaixa no absurdo em que a nossa vida se tornou.

Um grande galo, e não falo da missa, não conseguirmos ignorar uma tristeza mansa que se instala discreta no meio da confusão na mente anestesiada pela pressão que nos afasta dos mais importantes ideais.

Hipotecamos os nossos natais no crédito ao consumo que os comprou algures, carregamos essa cruz.
Talvez acabemos um dia com a alma pendurada no prego da loja de penhores, mesmo ao lado da efígie empoeirada de um tal de Jesus.
27
Nov06

SENHORA DE MIM

shark
divinestatus2.jpg

A mulher perfeita não existe. E ainda bem. A sua inexistência deriva do facto de uma mulher em condições ser aquela que vive bem com as suas imperfeições e as assume com tamanha naturalidade que as transforma em meras chamadas de atenção para tudo o que possui de bom para partilhar com quem a observa no todo que a compõe.
A mulher perfeita seria necessariamente arrogante porque a sua inteligência superior não lhe permitiria ignorar o facto de constituir um ideal, uma criatura suprema, cobiçada ou invejada por gente invariavelmente inferior.
Seria uma pessoa triste também. Pela constatação de lhe ser vedada a luta pela melhoria que move todos quantos possuem algo em si para corrigir, por se sentir limitada à manutenção da sua condição, isolada no cimo do pedestal.
Essa pessoa mulher não poderia ser uma pessoa melhor. E por isso prefere enfrentar os desafios que a sua natureza lhe coloca, com a mesma frontalidade e firmeza que aplica aos que lhe lançam a toda a hora a partir do exterior.
A mulher perfeita é sem dúvida a que aceita na boa as questões de pormenor de somenos importância porque lhes vislumbra a irrelevância, pragmática. Os quilos a mais, as rugas que despontam, o mau feitio manifestado em mais do que um dado período em cada mês. Detalhes que compensa com o resto de si enquanto destrinça com clareza o que importa de facto corrigir.

Ela não reage agressiva à indiscrição elegante de um olhar seduzido pela sua presença carnal, mais visível porque enfatizada pela segurança que alardeia e pela certeza absoluta que irradia quanto ao rigor das suas escolhas. E pela convicção que nela transpira de que não existe qualquer obstáculo letal a um instante mais sensual, reunidos os pressupostos para uma possível concretização da cedência à atracção que reconhece decisiva para o equilíbrio que procura manter.
E gosta de fazer ou que lhe façam o amor inadiável no calor da sua mais intensa tesão. Ou da simples paixão despertada pela frase adequada ou pelo toque subtil de um qualquer pormenor que nunca escapa à sua percepção de fêmea potencialmente disponível para quem a saiba merecer.

Sem estorvos artificiais ou dogmas fundamentais, sem vergonha do seu instinto animal. Recatada na pose mas sem renegar o sentido de humor ou o apelo interior que lhe justifica cada aposta, filtrada com o saber da experiência mais o dom da inteligência que em conjunto lhe franqueiam os actos de liberdade que se reserva.
Sem medos nem falsos pudores, na cama com os seus amores. Eternos ou não, pois a vida é parca em opções sedutoras como em relações duradouras e ela cedo aprendeu tal lição.
Em cada decisão o seu cunho pessoal, o arrependimento normal de quem erra de vez em quando mas prefere arriscar e até podia refugiar a frigidez emocional mal disfarçada em argumentos de merda que a impediriam de ser feliz.

A mulher perfeita, paradoxal, nunca se rejeita sensual com base nos diferentes papéis que a vida lhe acarreta. É amante, é mãe. E excelente profissional também. Exímia em todas as missões, capaz. De conseguir distingui-las na execução, sem nunca admitir a confusão que a possa castrar pois recusa amputar qualquer parte de si, no todo, essencial.
É filha, é amiga, é senhora ou rapariga e não se atrapalha no conflito entre a loucura e a lucidez que a empurram à vez para uma forma de estar. Eufórica ou melancólica, passiva ou activa, dominadora ou confiada ao poder que alguém decide exercer sobre si num arrebatamento consentido pelo reconhecimento de uma força irreprimível ou de um jeito másculo, circunstancial, que se manifestou, desejável se oportuno.

Sem pressupostos ou imposições. Com lugar para a irreverência na análise à consciência daquilo que pode ou deve fazer. Porque sabe o que quer na sua lógica de mulher tão flexível nos conceitos por admitir subordiná-los, sabedora, a diferentes interpretações.
Alimenta ilusões e contos de fada, menina, como assenta em profundas convicções a realidade que desatina mas enfrenta à sua medida, os pés bem firmes no chão.
Resistente inquebrantável à adversidade, combatente implacável pela paridade. Sem espalhafato, serena, a vitória pela evidência que só os estúpidos não conseguem distinguir. Ela sabe prevalecer sobre as falsas questões e as absurdas tradições que se esforçam por a convencer de uma inferioridade artificial.

É uma pessoa normal, alheia contudo aos clichés que dão jeito à maioria para cristalizar uma versão universal do padrão associado à alegada debilidade da cruz que um pipi representa. A fraqueza feita força no poder que não desdenha exercer pelos atributos do género, praticante de um judo misturado com xadrez, o adversário estatelado na baba que ingénuo derramou enquanto ela congeminava o método mais simples de o arrastar para o chão.
Por vezes apenas um sorriso matreiro. Ou talvez um argumento certeiro, de surpresa, para levar a água ao moinho vencedor, no seu imparável caminho para a perfeição rejeitada.

Só a trai o amor, calcanhar de Afrodite, a cegueira instantânea que lhe perturba a concentração e a empurra para fora dos carris de uma linha determinada, para os braços de uma incógnita carmim chamada emoção.

A mulher perfeita apaixonada constitui para mim a mais sublime imperfeição.
26
Nov06

CONTRACEPÇÃO HOTELEIRA

shark
contraceptivo mental.jpgFoto: Shark

Habituei-me aos poucos à ideia de as unidades hoteleiras não permitirem animais nas suas instalações. É chato e tal, os bichos fazem barulho, sujam tudo, podem suscitar alergias. Enfim, podem perturbar o sossego de quem busca um hotel para uma noite descansada ou um restaurante para uma refeição em boas condições higiénicas.
Habituei-me apesar do transtorno que isso me causa, pois sempre tive cão e nem sempre tenho disponibilidade financeira ou outras condições para arranjar quem tome conta do bicho para eu poder usufruir também desses privilégios que a hotelaria pode oferecer.

O princípio em causa, aquilo que leva os responsáveis pelos hotéis e restaurantes a recusarem liminarmente a presença de animais nos seus espaços de lazer, é fácil de assimilar. Mesmo um inconformado como eu, que já me vejo empurrado para a rua a contra-gosto sempre que quero fumar um cigarro (outro incómodo que a hotelaria decidiu banir, seguindo o exemplo das transportadoras e aproveitando o trilho que a Lei e os costumes vão criando), aceita os argumentos e age em conformidade.

Claro que só um parvo não percebe que a proibição, qualquer proibição, incute nos mais comodistas uma aversão natural aos alvos dessas limitações.
Cada vez menos gente se predispõe a acolher um animal na sua vida e cada vez mais pessoas preferem dispensar nas suas casas e mesmo nos seus carros a presença de quem fuma, impondo as mesmas regras que a hotelaria populariza.
A malta deixa cair na boa tudo quanto possa constituir um embaraço, um inconveniente, a maçada de qualquer limitação.
Fiquei a saber hoje, na revista de Imprensa de dois canais de televisão, que as unidades hoteleiras começam a impor restrições na admissão de famílias com crianças.Neste caso concreto nem vale a pena dissecar a argumentação que queiram impingir para justificarem tal medida. Nem mesmo o facto de não ser ilegal essa reserva específica do direito de admissão.

Ninguém me conhece por moderado no discurso ou mesmo no comportamento quando as decisões de outrem me enojam. E é o caso.
Esta nova tendência, que coloca os putos ao nível dos cães, é mais uma machadada num valor fundamental e sagrado. Tão grave, na minha óptica pessimista de quem adivinha o impacto de tal aberração nos casais jovens sem filhos e nos que adoram qualquer pretexto para os confiarem a terceiros, tão grave que assumo sem problema que qualquer hotel ou restaurante que me tente privar da companhia da minha filha terá que chamar a polícia para acabar com o putedo. E garanto que não tenho medo de defender esta causa na pele de arguido num tribunal.

Dão-me saudades do tempo da “velha senhora”, estes liberais da trampa que aceitam o mercado como equilibrador natural destas coisas. Dizem eles que à proibição de uns corresponderá o incentivo de outros e nascerão as unidades hoteleiras vocacionadas para acolherem essas famílias indesejáveis noutros estabelecimentos. E apetece-me mandar à merda esses teóricos que ignoram o valor da Família como o primordial em qualquer sociedade, em qualquer civilização digna desse nome.
As crianças, como os anciãos (talvez os próximos alvos da purga), não podem ser interpretadas como uma inconveniência em circunstância alguma. Não podem servir de pretexto para vedar às pessoas o acesso aos locais da sua preferência, remetendo-as para onde as deixam entrar.

Estas anomalias indignas fazem-me ferver por dentro, pelo efeito que lhes adivinho num país onde a taxa de natalidade já não lhe permite compensar os desequilíbrios da pirâmide etária. Onde muitos jovens encaram a paternidade como um estorvo à progressão na carreira ou mesmo à manutenção de uma relação conjugal sem ondas.

Estas regras do jogo nojento que o dinheiro impõe empurram-me em simultâneo para a esquerda radical que não acredita no bom senso do mercado e exige maior intervenção do Estado na regulação destas coisas e para a direita mais conservadora que coloca valores como a Pátria e a Família no lugar que acredito intocável.
Viram-me do avesso e obrigam-me a soltar o labrego em mim, nos actos como nas palavras.

Representam o que de pior encontro naquilo que os mais cordatos assimilam de forma pacífica como as “consequências naturais do progresso e da evolução”.

Nem os macacos evoluíram de um modo tão repugnante, em muitos domínios.

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