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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

07
Jan13

A posta que o superficial tende para o efémero

shark

Aos vinte anos de idade o apêndice para números telefónicos da minha agenda tinha letras que esgotavam o espaço, ao ponto de acabarem muitos nomes arrumados na letra que era sempre a menos utilizada.

Hoje, quando olho para esses contactos, sinto aquilo como uma lista de fantasmas, meras referências de um passado que não conseguiu aguentar-se até este presente envenenado das relações precárias que o fenómeno das redes sociais, por exemplo, ilustra sem contemplações.

 

Sou do tempo dos amigos para toda a vida. Era assim na amizade como no amor.

Claro que nem sempre as coisas corriam de feição, a vida é trapaceira e coloca-nos muitas vezes em posições insustentáveis perante os outros e vice-versa. Mas essas eram as excepções à regra. Bem ou mal, as ligações amorosas conseguiam resistir às inúmeras pressões que uma vida a dois acarreta. Bem ou mal, as amizades sobreviviam aos maus momentos e prolongavam-se no tempo à custa, quantas vezes, de cedências e de compromissos que nunca nos passaria pela cabeça tolerar. De simples pedidos sinceros de desculpa.

 

Talvez fosse apenas o instinto que nos levava a preservar essa ligação com quem se cruzava o nosso caminho e de alguma forma prendia a nossa atenção. Ou então seria a lógica que nos avisava que cada pessoa saída da nossa vida era mais um pequeno passo rumo a uma inevitável solidão. Nem arrisco presumir que era a natureza das emoções a fazerem a diferença. Certo é que conseguíamos manter a ligação com as pessoas ao longo de anos, muitas vezes apenas com base num telefonema anual a propósito de uma efeméride qualquer.

E agora isso não acontece, como o provam as minhas agendas sistematicamente vazias e a minha falta de empenho para voltar a preenchê-las.

 

Assumo o meu quinhão nesta mudança de paradigma, deixo cair os outros com a mesma ligeireza e leviandade com que o fazem comigo. Basta um pretexto, às vezes nem isso, para determinada pessoa sumir da minha vida. Basta algo tão simples como o desaparecimento de um telemóvel sem cópia dos contactos lá gravados, pois é quase certo que poucos, muito poucos, desses contactos voltarão a ligar. Por não estranharem a ausência ou por se estarem nas tintas para a minha falta no cenário.

É assim, preto no branco, que a coisa se processa em ambos os sentidos das ligações de merda, displicentes, descomprometidas, indiferentes, que estabelecemos entre nós em qualquer das dimensões que uma relação pode abranger.

 

É assim na amizade como no amor: temos meros conhecidos em vez de amigos a sério e amantes ocasionais em vez de amores duradouros. Apenas nos esforçamos para colorir a realidade, para a maquilhar para parecer como era dantes, no discurso e apenas. Fingimos acreditar que é coisa para durar, mas depois desertamos uns dos outros e das imensas maçadas que as relações mais próximas podem implicar. Queremos apenas um grupo que possamos integrar para não andarmos sozinhos na paródia, só para a reinação, e depois estranhamos quando nos momentos de maior aflição não faz sentido recorrer a qualquer uma dessas pessoas com quem não temos laços fortes o bastante para abusarmos da sua confiança que, de resto, é pouca ou quase nenhuma.

 

Isto a propósito desta prosa que li e recomendo a quem tenha pachorra para ler em inglês. É um texto corajoso de alguém que fala na primeira pessoa acerca da verdade dos factos, muito melhor do que eu seria capaz de o fazer.

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