NA VÉSPERA
Na véspera abafavas o que dentro de ti gritavas, palavras proibidas, liberdade e outras heresias.
Na véspera ainda não sabias que o medo por ti sentido era, em segredo, derrotado pela união de forças armadas ao poder das vozes caladas que na rua se fariam, por fim, ouvir.
Na véspera restava-te sentir a consciência amarrada no calabouço da impotência revoltada a que te condenava a opressão. Definhava nessa prisão a tua lucidez porque te sabias capaz de pensar demais acerca dos temas tabu, de expor as verdades a nu perante o despudor da tua mente à solta que encontrava na boca as grades da gaiola onde esbarravam vezes sem conta as palavras proibidas, democracia e outras foragidas da Pátria que te obrigavam a amar sem poderes contestar aquilo que sentias como um mal que nessa véspera apenas sonhavas poder acabar amanhã.