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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

07
Mar11

A POSTA NUMA MANIF À RASCA MAS MONTES DE BUÉ

shark

A sério que gostava de poder levar a sério o levantamento popular (virtual, até ver) que a música dos Deolinda, a crise financeira ou a simples sede de protagonismo de uma geração maioritariamente constituída por gente mimada, arrogante e demasiado umbiguista para reunir o arcaboiço necessário a um movimento colectivo espontâneo como os que viram na televisão e pretendem reproduzir na versão limpinha de um país democrático onde não existe um mauzão para lhes soltar as feras aos calcanhares suscitou.

Mas não posso. E explico-vos porquê.

 

Nunca fui um entusiasta dos rebels without a cause, excepto na sua componente lúdica. Uma revolução não acontece só porque sim, tal como uma manifestação não faz sentido quando se aliam a futilidade de um objectivo imbecil e despropositado, típico de quem não percebe pevas do que se passa à sua volta porque nunca esteve lá para ver, e a motivação dispersa por queixas que não passam da denúncia de problemas que todos conhecemos mas sem qualquer bitaite acerca de hipotéticas soluções.

O Sporting está mal e perde demasiados jogos? Expulsem todos os jogadores. Já agora, como a nossa Liga é muito inferior à espanhola e à inglesa acabem com o futebol no país.

O Ensino não corresponde às expectativas? É correr com o Corpo Docente no seu todo.

O país está em crise? É correr com toda a classe política.

E depois logo se vê.

 

Claro que o entusiasmo vai crescendo, há a popularidade da gaja parva que ela é, as mais de 20 mil clicadelas numa página revolucionária do Facebook e agora até já ganharam o festival da canção.

Os sinais multiplicam-se perante o olhar deslumbrado das gaiatas e dos gaiatos que depois de uma vida burguesa e sem dificuldades parecidas sequer com as que mobilizaram os seus pais e avós décadas atrás descobriram a pólvora sem fumo da contestação popular, da tenda armada na praça, do insulto impune ao agente de autoridade porque viva a liberdade e o people tá todo na rua a gritar.

Mas afinal vão gritar o quê, estes fedelhos que nunca mostraram interesse sequer em conhecer o funcionamento das instituições que querem agora, na prática, confiadas ao vazio?

 

Claro que muitos já sentem na pele as consequências do mau bocado que estamos a passar e juntarão a sua voz aos paladinos da moda contra o monstro de contornos difusos que é a classe política no seu todo, livres do jugo de partidos e outras organizações expiatórias de uma culpa que não assumem na sua birra mediática, tal como ninguém os ouve falar acerca de tomarem o seu posto nos bastiões tomados pela força do berreiro inconsequente na sua utopia abastada de meninas e de meninos que concordam na ideia de que estudar não serve para nada e por isso é certo e sabido que vão todos aprender os ofícios que dão futuro à pessoa, uma geração inteira a trabalhar no duro, pasteleiros, carpinteiros, serventes da construção civil e sem um canudo que só serve para atrapalhar.

 

Sentem-se poderosos, como os bandos de chimpazés, assim todos unidos num grupo grande quanto baste para impressionar os mais cépticos e para os contagiar com o impacto de uma imensa mole de carolas nos ecrãs de televisão. E nos monitores dos seus portáteis, as armas que esgrimem com a mestria de quem acha que sabe tudo e se habituou a vergar com chantagem emocional os adultos pelo ponto fraco do remorso pela sua falta de disponibilidade para os criar.

Cresceram na convicção de que berrar, como faziam em pequenos (ainda mais pequenos), sempre acaba por resultar numa vitória qualquer, tanto lhes dá.

 

Razões de queixa legítimas existem e talvez um dia até justifiquem que o poder caia na rua quando de entre os que gritam sobressaiam os líderes do futuro, inteligentes, consequentes, animados por uma convicção e dotados de um projecto alternativo que sirva melhor o país como o anseiam.

Mas do que já sei desta agitação das águas, aposto que a montanha não irá parir nem um rato de pedra.

Irá apenas abortar os delírios patetas de uma ínfima parte de uma geração que, como qualquer outra, engloba no seu seio um pequeno séquito de jovens calhaus.

10 comentários

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    shark 08.03.2011

    Eu aceito esse rótulo perante um texto destes, Ana. E também fiz parte dos que engrossaram as manifs contra as propinas, pelo que não é de todo o acto de se manifestarem que eu censuro.
    Mas ainda não vi ou ouvi um único sinal de seriedade neste pseudo-movimento de anarcas da treta que nem sabem ao que vão...
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    AnAndrade 08.03.2011

    Nem tu nem ninguém, Shark.
    E é por isso que tenho medo.
    Lido todos os dias com "miúdos" (que, no "meu tempo", eram chamados de adultos) que não sabem o que querem, que empunham a bandeira da canção dos Deolinda como se tivessem descoberto a pólvora, que dizem mal sem saber de quê.
    E só me apetece distribuir galhetas.
    In illo tempore, foi um rabo que me indignou. Hoje, amanhã, indignar-me-á a ausência total do que mostrar. Porque vale mais a ostentação de um rabo do que de coisa nenhuma.
    Conclusão? Este é um texto que eu gostaria de ter escrito, mas isso sou eu que sou muito invejosa. :)
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    kikas 08.03.2011

    Eu também tenho acessos frequentes de distribuir umas galhetas ... mas o exemplo que aponta, não me parece muito feliz!
    É que a geração rasca que frequenta a Católica, ou são pequenos aspirantes a burgueses ou então são mesmo burguesinhos praticantes que vão prás aulas no BMW da mãmã e estão habituados a comprar tudo feito e por medida!
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    AnAndrade 08.03.2011

    Cara Kikas:
    A minha vida acontece para além da Católica.
    De resto, dei aulas em muitos, muitos sítios para além da Católica, onde as gentes não teriam teoricamente motivos para serem os tais pequenos aspirantes a burgueses. E eram-no.
    Mais: em prol da verdade, na Católica não há só meninos desses. Há gente de todo o tipo e a generalização que faz não só é injusta (e revela desconhecimento) como perigosa, porque o são todas as generalizações.
    Vai daí, o meu exemplo pode ser muito infeliz, de facto, mas não pelos motivos que aponta. Digo-lhe o que repito vezes infinitas àqueles que rotula sem conhecer: fale-se unicamente do que se sabe; do resto, guarde-se silêncio. Ou procure saber-se.
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    kikas 08.03.2011

    Quem está a generalizar é você, Ana, ao assumir-se como Velha do Restelo, desacreditando completamente uma geração que, no seu entender, só levanta o cu da cama para ir ao Rock in Rio.
    E as suas galhetas virtuais já se tornaram num "déjà vue" fastidioso ...
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    AnAndrade 09.03.2011

    Poderia responder-lhe, Kikas, que não me assumi como coisa alguma: disse que tinha medo de me estar a tornar em algo que abomino.
    Mas eu não quero enfastiá-la.
    Muito obrigada por me ler tanto que já me reconhece as repetições. É sempre um prazer.
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    kikas 09.03.2011

    Ana, não precisa agradecer ... eu leio-a porque você escreve extraordinariamente bem e não leio mais porque não tenho tempo!
    Quanto à questão da Católica, admito que, embora a conheça razoavelmente, é óbvio que não a conheço tão bem como você.
    Aproveito para lhe pedir as mais sinceras desculpas pelo meu comentário. Há momentos em que é preferível estar calada e ontem foi um dia particularmente infeliz em matéria de comentários.
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    AnAndrade 09.03.2011

    Deixe lá isso, todos temos dias "daqueles"... :)
    Um beijinho e obrigada.
  • Sem imagem de perfil

    kikas 09.03.2011

    Obrigada eu
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