UMA MENTE ILUMINADA NUMA SINGELA ESPLANADA
O gajo observou com toda a atenção o voo dos pombos sobre a praça, recostado na cadeira da esplanada soalheira onde parecia dominar o mundo inteiro com a sua omnisciência.
Seguia os pombos com o olhar e depois fazia uma expressão que nos levava a concluir que meditava acerca da questão que se levantava a meias com os pássaros que manchavam a calçada em volta do chafariz com as suas sombras. Profundo, o esgar e talvez o pensamento. O gajo vivia aquele momento com um prazer que se revelava a cada pequeno gole no galão que fazia render muito para lá da última porção da torrada, bebericava, e depois regressava à observação atenta do voo dos pombos sobre as cabeças das pessoas que ignorava na sua deambulação pelo céu. Sacudiu algumas migalhas de pão do colo, com gestos discretos, e depois apoiou a testa numa das mãos e toda a gente em seu redor, testemunhas involuntárias, ficou a perceber que chegara a hora de processar toda aquela informação recolhida no pedaço de vida que decidira analisar com o rigor do seu intelecto superior como parecia querer conotar com a sua pose matinal perante cada comum mortal que o rodeava naquela manhã.
Calhou um daqueles objectos de estudo largar alguns dejectos sobre os transeuntes na praça cheia de sol e a reacção indignada espantou os pombos para longe e a expressão do pensador reflectiu a sua imensa sensação de perda.
Foi então, talvez inspirado pela situação, que se concentrou no computador e debitou mais um post de merda.