DOS MÉRITOS DISCUTÍVEIS
A situação do menino do balão, que por umas horas fez dos americanos palermas, reflecte como nenhuma (tirando talvez a do brasileiro que encomendava assassinatos para os cobrir em primeira mão) o quanto o poder da televisão está a ensandecer aos poucos uma parte da população mundial, retirando-lhe a capacidade de distinguir o certo do errado em prol da projecção mediática do pequeno ecrã.
Os exemplos multiplicam-se e só citei, de entre os mais recentes, os mais estapafúrdios. Existe, de facto, uma ânsia imensa e generalizada de aparecer na televisão e se alguns, como o célebre emplastro, possuem a atenuante do distúrbio mental outros, cidadãos sem problemas ou deficiências aparentes, começam a dar sinais de uma preocupante necessidade de encontrar um qualquer meio de obter aquilo que parecem sentir como uma honra.
Basta recordar os enxovalhos a que as pessoas estão dispostas a submeter-se em reality shows ou concursos televisivos (o Ídolos é, nesse aspecto, elucidativo de forma confrangedora) ou a forma como os castings assumem foros de acontecimento de primeiro plano em diversas localidades. E já devem ter reparado que centrei a acção em Portugal.
O nosso país começa a trilhar o mesmo caminho dos que vão produzindo episódios como os que citei no parágrafo de abertura. E a coisa não atinge apenas os cidadãos anónimos em busca dos seus quinze minutos de fama. É nítido o esforço por parte de algumas figuras públicas para conseguirem desdobrar-se em tempos de antena pessoais e é fácil até perceber que as cunhas, as amizades, funcionam como sustentáculo para algumas carreiras no mundo do espectáculo e outros.
Só não percebe quem não quer que são sempre os mesmos, ou quase, os protagonistas de programas vocacionados para a divulgação dos "populares do liceu" e em muitos casos as respectivas projecções mediáticas funcionam como trampolins para um sucesso que, sem a mesma, dificilmente poderia acontecer.
Não cito nomes, pois arriscaria certamente algumas injustiças já que não frequento o meio. Contudo, basta um pouco de atenção para perceber esses cada vez menos discretos "empurrões" que carreiras dormentes ou mesmo adormecidas recebem de repente com a inestimável colaboração de quem decide em matéria televisiva.
E o reverso da medalha é o eclipse por parte dos que caem em desgraça. E esta consiste apenas na saída desse círculo de amigos que se promovem entre si a um nível quase enjoativo e a qualquer pretexto.
Não estranhem. A blogosfera, à sua escala "provinciana", também funciona assim. Ou julgam que alguém retira o linque de outro blogue apenas por considerar que o respectivo conteúdo passou a ser indigno de tal referência?
De todo, o linque é apenas um instrumento de poder que usam sem hesitar os que entre nós possuem a visibilidade necessária para a partilhar ou retirar aos outros em função de critérios que passam, quase exclusivamente, pelo tipo de ligação pessoal ou pelas "modas" ou pelo reconhecimento dos seus "iguais".
Vejam a coisa nessa perspectiva e depois desmintam-me, se puderem...
Em ambos os casos, televisão e blogosfera, o fenómeno é perturbador pois acaba por reproduzir aquilo que já todos percebemos acontece na política partidária, com os medíocres a reboque dos diversos poderes para se empoleirarem num qualquer poleiro à sua escala.
E depois de aprenderem como se faz, tal como nos meios que citei, preocupam-se acima de tudo com a planificação de formas chicas-espertas de perpetuarem tal sistema.