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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

05
Jun09

BARCA DO INVERNO

shark

O nevoeiro a toda a volta. Frio e húmido. Parece bater à porta, misterioso como um viajante desconhecido que aparece de repente para jantar.

Na cabeça a latejar, cercada pelo breu interior, atracada no cais seguro da reclusão para espantar o medo de quem sente fugir o chão debaixo dos pés, arrastado o pensamento por marés baixas que a lua provoca a seu bel-prazer, na cabeça a doer pelo esforço prolongado de nadar em doca seca na razão perdida num beco qualquer da vida dos que sempre enfrentam as mentes entorpecidas pela falta de visão.

Que o nevoeiro, espesso como algodão, dificulta ainda mais a quem navega à deriva no oceano por dentro de si.

 

A lógica perturbada, sem princípio nem meio nem fim, atordoada pela bruma criada pelo gajo que fuma enquanto a sua cabeça enfrenta as vagas sucessivas iguais às das marés vivas que intimidam sem cessar os que não aprendem a navegar lá fora, onde as águas são outras e as esperanças são escassas para os náufragos potenciais.

Sempre uma palavra ou duas a mais, como braçadas nas direcções erradas que afastam os marujos da terra à vista que o nevoeiro se encarrega de esconder. As coisas que não se podem dizer, malditas, levantam as âncoras suspeitas de levitação quando as move o coração por sua conta e risco. Parecem boiar quando as palavras se fazem ao mar em embarcações carregadas de emoções sem nexo e fustigadas pelo oceano perplexo com tanta temeridade perante a inevitável adversidade da brisa contrária à navegação.

 

Afundam em poucos instantes, esses delírios de amantes necessitados de falar (demais) as coisas que não se fazem a dois e que soçobram sem apelo como um frágil castelo esculpido na areia.

 

E o gajo na ameia, desamparado, acaba por morrer afogado numa praia lambida pelas ondas que carregam os destroços patéticos da argumentação desastrada que antes fora lançada ao mar da incerteza sem pensar.

 

Entretanto o nevoeiro, que ali permaneceu o dia inteiro, começa finalmente a dissipar.

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