OK TELA NO MURO
Foto: shark
Eu sei que se fosse o dono de alguma parede mesmo a pedi-las até podia ver a coisa de outra forma, sobretudo quando me acabasse o fiado na casa das tintas ou a força no pincel.
Porém não consigo olhar para uma coisa assim e ficar-lhe indiferente, até porque entendo estes gestos como actos de coragem e explico-vos porquê.
É que qualquer macho da espécie sabe (ensinam-lhe) que quem escreve (ou diz) coisas como “amo-te” é com toda a certeza maricas. E essa é uma carga tremenda para carregar nas costas, passe o exagero, intimidando a maioria ao ponto de acabarem a falar sozinhos enquanto as suas martas buscam refúgio no carinho de que são capazes os Homens sem medo de assumirem o descontrolo da sua paixão.
Claro que nem sabemos se a Marta Leite (ou o pai, ou o marido) achou piada a ver a coisa escarrapachada num ponto movimentado da sua zona, mas esse é apenas mais um aspecto que enfatiza a tal coragem de que vos falo quando me deparo com estes gritos que afinal são escritos por um qualquer zé com as emoções a turvarem-lhe a vista.
Um Homem capaz de arriscar ser apanhado pela polícia, pelo dono do muro ou edifício, pelos amigos que o rotulam imediatamente de panasca ou apenas pela própria Marta de braço dado com o seu novo namorado é digno do maior respeito e consideração por parte deste tubarão lamechas.
Em causa está um impulso daqueles que só o amor inspira em alguém, não o de um qualquer “morte aos skins” ou um “buraka dude” que até garantem que o artista faz boa figura perante o resto da malta.
Em causa está a assinatura romântica de um herói dos nossos dias, incapaz de calar o aperto no coração de cada vez que lhe ocorre à ideia o Leite de Marta.
Só um Homem apaixonado recorre a qualquer meio, sem medos nem preconceitos, para lutar pela donzela que tanto queira chamar sua no fim.
E só um mamífero muito encantado seria capaz de o pintar assim.