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CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

CHARQUINHO

Sedento de aprendizagem, progrido pelos caminhos da vida numa busca incessante de espíritos sábios em corpos docentes. (sharkinho at gmail ponto com)

19
Mar09

DISCO RISCADO

shark

Gostava de poder dizer-te que tudo permanece intacto tal e qual o cristalizaste na memória, sempre a mesma velha história dos tempos bons como os viveste enquanto tudo parecia tão simples para ti.

Um disco gasto, riscado pela agulha que insistes colocar sempre no mesmo lugar que é a única referência capaz de te transmitir a ilusão de uma proximidade que só nesse teu tempo tão antigo existiu. Fotos a preto e branco de momentos normais que são os dias especiais que deixaste algures de cultivar, perdido noutro lugar onde a tua lembrança se perdeu por caminhos que te afastaram de muito daquilo que, dizes agora, te fazia sentir feliz.

 

Vives agora numa outra dimensão, tão distante que já nem mesmo a ilusão consegue alcançar. Vives agora num outro lugar onde apenas te resta o conforto das recordações cada vez mais difusas, das emoções estapafúrdias porque dedicadas a alguém que deixaste de conhecer quando deitaste tudo a perder com o desmazelo que te arrastou para longe, como o mar o faz aos corpos estranhos, mergulhado em enganos que a tua mente inventou para preencher os espaços em branco que o teu coração acumulou.

Perdido numa ilha deserta onde te refugias agora de tudo a que a realidade não te poupou, sempre que te viste forçado a pousar os dois pés no chão que pisas sem cuidares, como sempre, de acautelar o que de mais importante deveria existir para ti.

Ausente, sempre mais e mais distante a bordo desse tempo que vives em constante repetição e há muito perdeu o sentido que ainda hoje tentas atribuir ao pouco que consegues sentir nos intervalos desse teu coma emocional.

 

Gostava de poder dizer-te que apesar de tudo quanto correu mal existe uma porta de saída para uma qualquer forma de reconciliação. Mas infelizmente não. Cuidaste até de transmitir como legado, a herança que negas, esse teu triste fado que empurras para as costas dos outros com a leviandade de quem não reconhece culpas e se enclausura numa cadeia de certezas absolutas que te anestesiam a consciência quando enfrentas a consequência inevitável, esta distância incontornável que aumentas a cada passo que dás enquanto tentas olhar para trás em busca de uma bóia de salvação, com a praia mesmo ali.

 

Gostava de poder dizer-te que ainda gosto de ti como dizem ser a minha obrigação, mesmo depois de consumada a abdicação que acabas por forçar com a displicência da tua forma de agir que se resume à ausência de qualquer acção digna desse nome. Sujeito passivo, sem nada de substantivo para oferecer.

E assim permaneces, o tempo quieto, até deixar de doer por completo a ti como a mim esta verdade que já nem sentimos vontade de encarar porque nunca a quiseste falar do lado de fora dessa pele que sinto como uma couraça impenetrável à razão, ao amor.

 

Esta verdade cada vez menos desagradável e mais fácil no trato porque o tempo, sensato, acaba por cumprir o seu papel (alegadamente) redentor.

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